Ter, 26/02/2019 - 10:19
Pessoas de boa fé podem questionar-se se não estaremos a assistir a uma ofensiva contra a humanidade, perpetrada por todos os demónios imagináveis, vindos de um obscuro reino do mal, que racionalmente recusamos, apesar de irromperem no nosso quotidiano fenómenos que gostaríamos de relegar para memórias difusas de uma ancestralidade animal.
Procuramos convencer-nos que tal estadio, visto por olhos de hoje como trágico, violento, quase mísero, teve o seu tempo próprio. Depois abriram-se horizontes para a consumação do destino de construir o bem, em harmonia e solidariedade.
Por isso a surpresa, a inquietação, o espanto, a que sobrevém uma raiva quase pecaminosa, ou somente a abulia melancólica dos que desistem perante o absurdo sem fim que toma conta de cada dia.
Desde que começou o novo século, apesar de prodigiosos avanços materiais, nomeadamente apuradas afinações tecnológicas, confrontamo-nos com fenómenos que revelam permanências de uma natureza dura, que não se compadece das utopias empolgantes, que indicam o caminho mas não nos libertam de obstáculos nem de vertiginosos abismos.
Os tempos requerem coragem, pragmatismo e serenidade, que só podem resultar da observação racional do mundo, sem ceder às aparências nem aos medos de fantasmas, produtos da ignorância e da cobardia.
A acção firme contra todas as formas de selvajaria impõe o fim da displicência na condução da vida dos estados de direito democráticos. Estamos perante problemas que instalam o sobressalto e a insegurança, fontes de todas as instabilidades.
Na realidade, é urgente que nos questionemos sobre o que tem sido feito nos sistemas educativos, para que se tenha chegado à situação que vivemos.
Não se ensina história cientificamente conduzida, não se cultiva a reflexão filosófica, não se promove o conhecimento objectivo da realidade que as ciências proporcionam, permitindo que se instalem paranóias colectivas, um verdadeiro circo trágico em que a opinião boçal se arroga direitos de cidadania, num relativismo que conduz a nova Babel, propiciadora de confusão, não pela diferença das línguas, mas resultante do desfile ininterrupto da estupidez.
Só assim se pode perceber que voltem suásticas nazis às paredes e cemitérios da Europa, que haja miríades de pategos a pôr em causa valores morais e éticos, consolidados ao longo de milénios e parvos alucinados a negar a esfericidade da Terra.
Entretanto, há bombas, carros lançados sobre multidões, facas traiçoeiras, déspotas analfabetos que mandam matar sem pingo de vergonha. As comunidades assustam-se, lamentam-se até ao estertor, prontas para a submissão. E há gente com responsabilidades nas lideranças políticas que contribui para alimentar equívocos, na convicção de que depois do caos poderá encontrar espaço para uma nova ordem, concebida à medida da sua própria soberba. São os que nunca puseram em causa o jhiadismo, o erdoganismo, o tremendismo iraniano ou o chavismo, coios de alguns dos mais brutais assassinos que a história já conheceu.
Teófilo Vaz