Trás-os-Montes fora do Plano e do Mapa

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Importa saber o que é que os políticos pensam de Trás-os-Montes para se compreender o desprezo a que votam esta região ancestral que muito embora não tenha petróleo nem praias, nem seja viveiro de votos, tem muito mais que isso.

Regra geral todos eles parecem ter chouriças no lugar das circunvoluções cerebrais pois estão convencidos de que nada mais se aproveita em Trás-os-Montes para lá do fumeiro, em particular da alheira de Mirandela, do presunto fumado de Montalegre ou o do salpicão de Vinhais.

A direita mais azeiteira valoriza, naturalmente, o azeite da Terra Quente com que se tempera o bacalhau muito embora este não seja, até ver, pescado nos rios transmontanos. Digo até ver porque é certo e sabido que os chineses, que já são donos de grande parte do território desde que compraram as barragens ao preço da uva mijona, mais dia, menos dia acabarão por montar viveiros do “fiel amigo” nas albufeiras de Miranda ou de Picote. Vislumbro aqui uma réstia de esperança, perdão, de alhos, queria eu dizer.

Já a esquerda democrática mais matarruana entende que o folar de Valpaços e os pastéis de Chaves, regados com vinhos de Murça e de Favaios, geram maiores ganhos eleitorais em festas e romarias, pelo que devem ser estes produtos privilegiados.

Quanto à esquerda pseudodemocrática, a tal que apenas respeita a democracia quando e enquanto lhe convier, agastada com o carácter positivamente reacionário dos transmontanos, cedo se desapegou de Trás-os-Montes, sobretudo desde que deixou de haver searas a ondular ao vento e ceifeiras a cantar.

Finalmente, para os deputados e autarcas locais Trás-os-Montes não passa duma coutada na qual caçam votos com fidelidade canina, (sem ofensa já que tenho o maior afecto e respeito pelos meus cães), a mando dos donos que lhes assobiam desde Lisboa.

Vem isto a propósito da notícia de que Trás-os-Montes ficou fora do Plano Nacional de Investimento 2030. Quer dizer: até 2030 os transmontanos vão continuar a espreitar o futuro por um canudo. Melhor dizendo: o povo transmontano, ordeiro e pacato, está condenado a cavar hortas e a pastar sonhos e carneiros durante mais uma longa e obscura década.

Surpreendentemente foram os autarcas da Comunidade Intermunicipal de Trás-os-Montes que levantaram a lebre. Honra lhes seja feita.

Congraçaram-se, tiraram fotografias, expressaram o seu descontentamento politicamente correcto mas, não tarda, voltarão a vestir os pijaminhas laranja e cor-de-rosa e continuar a dormir à sombra das frutuosas árvores partidárias. Melhor fora que tivessem ficado quietos e calados.

Entretanto o primeiro-ministro, com o cinismo que é público, declarava no acto de assinatura da empreitada para a requalificação do IP3 que o “país não se pode lembrar do Interior apenas no Verão, quando há incêndios”. É preciso ter lata!

E diz ele que anda obcecado com Portugal do qual, como se vê, arredou definitivamente Trás-os-Montes, que nem Interior considera sequer, porque ele mesmo o tirou do plano e do mapa.

Será que o move um sentimento de racismo para com os transmontanos!?

 

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

Henrique Pedro