Ter, 18/12/2018 - 10:18
O acaso, esse imponderável monstro da obscuridade, continua a encher-nos de medo, apesar de toda a ciência e das tecnologias que nos levam a esquecer a fragilidade da nossa condição perante os caprichos de uma natureza cruel, dada a festins mortíferos.
Desamparados, chocados com as tragédias, choramos por pouco tempo, reincidindo logo na presunção de que há-de chegar o fim de todos os males, para que se consume a tranquilidade que julgamos merecer.
No sábado, quando a noite já nos envolvia, fomos confrontados com uma tragédia particularmente nossa, que nos deixou em sobressalto, porque morreram quatro pessoas num helicóptero do INEM que se despenhou, exactamente esse com que contávamos para nos valer em situações de verdadeiro aperto, naquele limiar entre a vida e a morte, que esperamos chegue sempre tarde.
Ali, em Macedo de Cavaleiros, estavam o aparelho e a equipa que nos garantiam mais probabilidades de nos mantermos por cá, apesar de todas as mágoas que nos tomam conta da alma.
Fora longa a espera, carregada de dúvidas, até à instalação do aparelho ao serviço do amplo nordeste do país. Ainda há meia dúzia de anos se vivia na incerteza e foi com alguma renitência dos poderes centrais que se formalizou o serviço aéreo de emergência médica, celebrado por autarcas, mas principalmente pela população envelhecida e debilitada que teima em permanecer neste território.
Paira agora sobre o nosso destino nuvem carregada de renovadas dúvidas quanto ao futuro, desvanecida, para já, com a chegada de outro aparelho, mais pequeno, que estaria em manutenção. Do mal, o menos, até ver.
Mas, a situação que se viveu trouxe ao de cima, mais uma vez, perigosas disfunções de estruturas que deviam inspirar confiança aos cidadãos, na sequência do que aconteceu no Verão e no Outono do ano passado e, mais recentemente, entre Borba e Vila Viçosa. Fica-se com a sensação de que o Estado está diminuído, desleixado ou simplesmente infestado de parasitas, que se dedicam a garantir os seus interesses, sem consideração pelos desígnios do país, muito menos dos cidadãos que deveriam servir.
A obra dos homens nunca atingirá a perfeição, mas quando as falhas surgem apesar da boa fé na procura do bem comum, ninguém ousará atirar a primeira pedra. No entanto, tudo leva a crer que sobra arrogância, displicência e mesmo desprezo pela res publica, enquanto falta a coragem, a frontalidade e o despojamento da verdadeira política.
Está a tornar-se quase incomodativo este tempo em que se sucedem tragédias, lamentos, dedos apontados, esgares de espanto, guinchos de raiva, prédicas moralistas, tudo num torvelinho inconsequente, para voltarmos sempre ao mesmo, num círculo vicioso de que já não parecemos ter força para nos libertar.
E isto cansa. Qualquer dia poderemos assistir à investida cega, violenta, arrasadora contra o sistema democrático, resultante do desespero e à procura de alívio, mesmo que passe pela descida aos infernos da bestialidade, de que já vamos sentindo os roncos numa Europa do nosso descontentamento.
Teófilo Vaz