Ter, 11/09/2018 - 11:34
Em pleno frenesim dos resultados das colocações de estudantes no ensino superior, as agora boas estradas do país encheram-se de viajantes, pastinhas transparentes com sete ou oito papéis, a caminho dos serviços académicos espalhados pelo país.
O politécnico do distrito não deixou créditos por mãos alheias e confirmou a capacidade de atrair estudantes do país, a que acrescentará, certamente, um número de estrangeiros similar aos que se verificaram em anos anteriores, para bem da economia local e da consolidação do papel que tem tido na dignificação da região.
Mas, observado a realidade nacional e as condições a que se sujeitam jovens da generalidade do interior para frequentar o ensino universitário, nomeadamente alguns cursos que não podem ser semeados por todo o lado, voltamos à dura constatação de que, embora a lei fundamental estabeleça a igualdade, há sempre uns que são mais iguais que outros.
Frequentar cursos superiores nas grandes cidades do litoral continua a ser, como foi durante mais de um século, uma razão para esforço hercúleo de milhares de famílias, que insistem em resistir ao canto das sereias roliças que bailam ao sabor da rebentação, linha da costa afora.
Desde logo porque a concentração urbana, nunca contrariada, vai alimentando a cupidez, a especulação sem freio, o salve-se quem puder, desde que o dinheirinho corra para goelas ávidas e insaciáveis. Famílias da designada classe média, a viver no interior do país, têm que dispor de mil e duzentos a mil e quinhentos euros para manter dois filhos a estudar na capital, no Porto ou em Coimbra. Ouve-se, com frequência, que o melhor seria investir na compra de habitação nesses grandes centros, o que arrasta outra consequência: mais capitais que vão e não voltam, alimentando a macrocefalia e debilitando o resto do território.
Como se não bastasse tal sangria, as capitais litorâneas guardam segredos que só atenção avisada descobre, também eles com capacidade para amolecer almas que queriam manter-se na luta pela equidade e pela justiça.
Olhando para as colocações dos estudantes, observa-se uma tendência de notas inflacionadas em alguns estabelecimentos de ensino, nomeadamente privados, o que distorce as classificações, provocando injustiças. Basta olhar para as notas de frequência e para os resultados dos exames, admitindo que tudo se passa com limpidez, apesar do coro de murmúrios que se repete há um quarto de século sobre a necessidade de uma verdadeira fiscalização no que respeita às condições em que se realizam provas em estabelecimentos que acolhem gente rica e fina.
A piorar tudo isto, sentimos que os filhos do interior, muitas vezes de méritos reconhecidos, jovens dignos, esforçados, bem educados e conscientes da sua relação com as raízes, não virão a encontrar forma de exercer as competências que a universidade lhes proporcionará senão nas concentrações do litoral, tornando ainda mais cruel e absurdo o destino da terra que lhes permitiu florescer para um mundo que mereciam conhecer bem mais equilibrado. Bastava que houvesse dignidade na direcção política, em vez do imediatismo sôfrego que nos vai envergonhando a consciência.
Teófilo Vaz