Ter, 04/09/2018 - 10:38
O semanário “Expresso” marcou o fim-de-semana com uma entrevista ao presidente do município de Lisboa, nascido e criado no Porto, Fernando Medina, jovem que iniciou fulgurante carreira no aparelho do PS quando Guterres exercia o mandato como primeiro ministro.
Economista, enquanto estudante foi muito activo na academia nortenha, mas cedo desceu à conquista de um lugar a sul, chegando a secretário de Estado com José Sócrates. Falou-se nele como promessa de liderança, mas veio a acompanhar António Costa como vice-presidente da capital do reino, porta aberta para se sentar na cadeira quando o actual primeiro-ministro engendrou a solução governativa que dura há três anos.
À frente dos destinos de Lisboa, na sequência de primordial geringonça, agora mais afinada, porque vem do tempo de Jorge Sampaio, não se faz rogado a polémicas, sabe-se lá se com vontade de disputar lugar na história a Sebastião José de Carvalho e Melo, talvez esperando posteridade com estátua e tudo.
Enquanto as decisões da edilidade alfacinha mexerem somente com quem lá vive e gosta, bom proveito, entendam-se, que o país vai tendo mais que fazer.
Mas Medina não parece ter pejo em confundir as funções e, pelos vistos, considera-se com direito a pôr e dispor dos recursos nacionais de acordo com as suas prioridades políticas pessoais, que podem passar por granjear popularidade que lhe garanta a manutenção na câmara ou até o suporte para se instalar em S. Bento. Claro que não se nega ao eleitoralismo populista e, como se sabe, desde o tempo da Roma imperial, com papas, bolos e festas se enganam os tolos. Na entrevista, Fernando Medina, com o despudor de quem se sente acima dos desígnios de um país inteiro, defende que na área metropolitana de Lisboa os passes de transportes urbanos e suburbanos deverão fixar-se nos trinta euros para a capital e em quarenta euros para os restantes dezoito concelhos, o que se traduziria num objectivo privilégio para os cidadãos que ali residem, por comparação com os que restam em quatro quintos do território, onde não dispõem de serviços mínimos de mobilidade, situação que tende a agravar-se para um número crescente de deserdados do novo riquismo que tem fascinado pseudo-elites instaladas no poder, sem curar da equidade, da justiça e da dignidade que a história do país reclama.
Enquanto o primeiro-ministro vai dizendo que o desenvolvimento do interior é um objectivo irrecusável e o presidente da República sublinha, sibilino, o que vai ouvindo a tal propósito, o sr. Medina tem o desplante de avançar tal proposta, adiantando esperar que o próximo orçamento contemple 165 milhões para que a sua malta ande de “cu tremido” à vontadona.
A ousadia de Medina não terá surgido, certamente, para desafiar António Costa. Corresponde, provavelmente, a uma opção para o futuro do país, que foram evitando expressar de forma ostensiva. Mas, a dissimulação multiplica as faces até ao descontrolo e chega o momento em que um qualquer enfatuado descobre a cauda do gato.
E assim vivemos este tempo agoniante, que tem feito do país um chafurdo. Mil anos contemplam a miséria da condição a que chegámos.
Teófilo Vaz