Riscos dos feminismos

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Ter, 07/08/2018 - 14:18


A humanidade foi possível apesar da natureza, que continua a determinar as pulsões planetárias, reflexo de forças cósmicas que vamos compreendendo, mas estamos muito longe de condicionar, nem sequer de prever.
O tempo do sapiens ainda não passou de um sopro, um suspiro sem garantias de permanência, como terá acontecido a milhentas espécies que viram abortados destinos prometedores.
Nas condições em que nos é possível sentir o tempo e a Terra, cremos constituir diferença inédita entre as vidas que por cá tiveram possibilidades de dar um ar da sua graça. A diferença será a consciência de nós próprios e a aspiração de encontrar um paraíso perpétuo, paradigma inspirador de utopias, mil vezes renovadas depois de choques fragorosos com a realidade esmagadora da irrupção das forças titânicas, sem contemplações pelas nossas ânsias, entusiasmos, angústias, ilusões e desesperos.
Uma das expressões mais notáveis do caminho feito pelo sapiens é a transformação do modelo de relação entre o masculino e o feminino. Os nossos primos primatas e os outros mamíferos continuam a cumprir desígnios da natureza. Observamos o papel dos machos alfa, o controle das fêmeas, as disputas sanguinárias pela liderança dos grupos, a eliminação da prole dos vencidos em nome da dominação genética.
Nós somos a excepção, ou talvez não. Nos últimos milénios desenvolvemos modelos de interrelação em que o lado feminino da humanidade foi encontrando espaços de autonomia, mas também conheceu longos períodos de submissão, com consequências gravosas para o que designamos dignidade da pessoa humana. 
Tem sido uma realidade marcada por avanços, muitas vezes efémeros, afundando-se em ondas de ressaca. A realidade objectiva é que as mulheres têm feito um percurso sempre segundo, mesmo se lembrarmos Alexandria dos Ptolomeus, com mulheres política e culturalmente activas, os degraus subidos no auge de Roma e os tempos idílicos dos trovadores medievais, atentos, veneradores e apaixonados pelas damas.
Entretanto, por quase um milénio, tinham visto degradar a sua condição, de que é exemplo extremo a lei sálica, que lhes impôs, na Europa, a impossibilidade de assumir responsabilidades políticas e familiares, ao mesmo tempo que, nos espaços onde o Islão se impunha, se sujeitavam à humilhação maior da lapidação que continua a aterrorizar o quotidiano de milhões de mulheres neste século XXI.
O que tem acontecido de bom para as mulheres resulta da sua afirmação mas também do esforço de alguns homens, que souberam colocar-se acima da animalidade, cultivando a sensibilidade e o fascínio pelo universo feminino, rasgando horizontes que a natureza nunca proporcionaria.
O caminho de libertação das mulheres passa pela solidariedade entre os dois géneros. Se alguns feminismos insistirem em fazer de cada homem um inimigo, o resultado pode ser a recondução à bendita selva e ao domínio dos machos, com fracos resultados para o apuramento dos sentidos ético e estético e com graves prejuízos para a nossa passagem por este mundo, onde a beleza, a sensibilidade e a resistência femininas têm constituído a diferença fundamental.

Teófilo Vaz