Ter, 31/07/2018 - 15:08
De passagem por Bragança, turista acidental levará, certamente, memória de uma cidade de dimensões modestas, com sinais de envelhecimento das gentes, logo de futuro breve, mas com um percurso secular longe da insignificância.
O castelo tardo-medieval, grandioso e com torre de menagem única, convive com uma catedral erigida quase sete séculos depois, a primeira do século XXI, permitindo imaginar permanência de vida, longe da decadência resignada em que vamos esmorecendo.
O acidental observador, porventura atento, se cotejasse o que vira com os índices da demografia e da economia haveria de estranhar a condição paradoxal, não tendo informação dos inúmeros sobressaltos que, ao longo do tempo, foram sinais de resistência ao fatalismo esmagador.
Ainda restaram alguns resistentes, continuadores de personagens marcantes. Entre outros, o bispo emérito da diocese de Bragança-Miranda, D. António José Rafael, falecido no domingo, também foi um exemplo de dedicação à região e à cidade, provavelmente convencido de que o seu entusiasmo, a sua força, mesmo a sua teimosia, haveriam de produzir resultados.
A catedral é um símbolo dessa vontade, apesar de o prelado não ser propriamente um bragançano. No entanto, mereceu respeito dos que de cá somos, à semelhança de alguns dos nossos que, nos últimos dois séculos, sonharam com outro destino para estas terras e estas gentes. No fim de contas, continuamos à espera.
Se nos lembrarmos de Abílio Beça, o verdadeiro homem do caminho-de-ferro do distrito, que terá entendido o comboio como um passo de gigante até ao progresso, somos levados à inquietação da objectiva inutilidade dos seus esforços.
Também podemos recordar Camilo de Mendonça e o sonho que acalentou de uma agro-indústria redentora da economia regional, que a emigração secou de forma inexorável, atirando-nos para o retorno à dura lei da natureza, a retomar o controlo do espaço, vazio das emoções da condição humana.
O prelado que findou a sua jornada neste mundo, terá sonhado com uma catedral capaz de operar um milagre, constituindo-se como referência de uma comunidade inteira a crescer e prosperar com a ajuda de Deus. Mas, apesar dele, do seu denodo e dos entusiasmos que concitou, o que se constata é que, também neste caso, passámos ao lado da história onde se enraíza o tempo que há-de vir.
Por agora, prenuncia-se a desactivação de igrejas históricas da cidade de Bragança e de algumas mais recentes, que terão constituído resposta a uma ilusória expansão da comunidade de fiéis.
Afinal, o exemplo da catedral não é uma novidade. Também o castelo, apesar da sua grandeza, não bastou para nos garantir o presente, quanto mais o futuro. A cidade deu nome a uma dinastia que, durante duzentos e setenta anos, esteve à frente dos destinos do país. Não deixámos, por isso, de permanecer na condição de periferia, apesar de o nome de Bragança continuar a ser prestigiado e por todo o mundo.
Resta-nos esperar que o rodopio das galáxias proporcione, algures no espaço-tempo, destino diferente à região e a quem ainda por cá estiver.
Teófilo Vaz