Será fácil adivinhar que nas próximas semanas vamos assistir ao recrudescer das promessas de boas intenções e melhor governação por parte dos candidatos, envergando as camisolas das várias cores partidárias.
Há largos meses de modo empacotado e encapotado, os candidatos desdobram-se em promessas destinadas a embalar os votantes, isto por um lado, por outro entretêm-se no envio de dichotes destinados a todos quantos são considerados adversários, especialmente àqueles que se posicionam a par e par, e a todo o custo tentam desalojar os já suficientemente conhecidos do eleitorado.
Nesta altura nas sedes dos partidos reina ambiente pesado, cerzir as listas implica paciência de Job ante os desejos e pretensões dos militantes, firmeza no dizer não às pressões e cartas verbais vindas do interior do partido, autoridade para suster as forças de bloqueio dos dispensados, dos desejosos, dos esperançados no chamamento e que não o foram.
Se lermos atentamente os jornais nacionais e regionais, lemos incrédulos soletres manifestações de escárnio maldizer destinadas a produzir efeito nos militantes e companheiros de jornada de cada partido. Façam favor de ler acusações de traição, de duplicidade, de hipocrisia, vindas a lume nos órgãos de comunicação social, sem esquecer as redes sociais onde prevalece o vale tudo no tocante a desqualificações dos opositores.
Naturalmente há sempre pessoas cujo ego supera os Himalaias, tais criaturas julgam conhecerem-se bem e por isso mesmo pensam deter saberes e competências só por si suficientes para merecerem escolha debaixo de uma chuva de palmas e aplausos. E, no entanto, tal como os ídolos de pés de barro caso consigam alcandorar-se ao poder não tarda a enfileirarem ao lado do rei vai nu exibindo confrangedora vacuidade e incompetência.
Poderia dar-lhes de boa vontade, nomes e mais nomes, se o fizesse o leitor de imediato criticaria a lista, não por erro meu, sim porque tinha esquecido fulano, beltrano e sicrano tal é a fartura de exemplos, alguns deles autores de decisões cujo custo ao erário público é de muitos milhões, também peritos no fazer feio o bonito, destros no copianço do estilo bimbo tão do agrado de patos-bravos e seus mentores donos de canudos coloridos e cinzentos.
A escolha de quem nos vai governar a nível das autarquias não copiar a compra de melões, depois de abertos logo se vê a virtude, temos de aquilatar sobre as suas supostas intenções, não as vertidas nos manifestos eleitorais nos quais cabe tudo, sim ouvindo-o, sim obrigando-o a explicar tim-tim por tim-tim o seu conceito de cidade ou vila, a sua visão de futuro, realista, a exequibilidade das ideias por ele defendidas, a atitude em caso de desaire, fica na oposição ou desaparece, o seu futuro para lá do efémero por mais duradouro que seja.
Ao fim de quarenta anos de poder local não é lícito apregoar desdém relativamente a estas eleições de proximidade, podemos abster-nos, no entanto, a recusa de votar em coerência implica a renúncia todo e qualquer criticismo do governo municipal, a entrarmos na toca do silêncio imitando os eremitas no seio do deserto.
Eu não quero ser eremita, muito menos silencioso, eu quero usufruir dos deveres e direitos de cidadania, plenos, por tão claras e videntes razões seria estultícia deixar de escrutinar os interessados na assumpção de responsabilidades municipais, mais a mais num tempo de gritante incerteza a todos os níveis E o leitor? Vai manter-se na ociosidade política? Vai deixar ao cuidado dos outros o seu estatuto de cidadão. Vai demitir-se de si próprio? Deixo as interrogações no desejo de alertar quem lê para a responsabilidade que pesa nos seus ombros. Se um leitor reflectir sobre elas já fico satisfeito!