A beatificação de Mário Centeno

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Sou fervoroso devoto de Nossa Senhora de Fátima, o que significa que acredito que em Fátima se operam verdadeiros milagres.
Acredito mesmo mais em Fátima que em muitos papas ou primeiros-ministros, de qualquer igreja ou governo, incluindo o português.
Por isso, verdadeira mistificação, para mim, é o milagre económico em curso que os pastorinhos da “Geringonça” têm vindo a insinuar no espírito dos portugueses e a que também se converteu o senhor Presidente da República. 
Paradoxalmente os maiores críticos e descrentes são os acólitos da própria “Geringonça”, PCP e Bloco de Esquerda, muito embora não deixem de ir à missa de S. Bento, por muito que lhes custe engolir as hóstias ácidas da CEE.
“Geringonça” que ousou reverter, inutilmente, a privatização da TAP mas que se fechou em copas no que toca à EDP e à Telecom, que despudoradamente continuam a explorar milhares de empresas e milhões de famílias, perante o silêncio cúmplice, politicamente falando, do PCP e do BE, a quem apenas parece incomodar os vencimentos obscenos dos administradores.
Pretende agora o primeiro-ministro António Costa fazer-nos crer que a transmutação operada no défice por Mário Centeno teve algo de sobrenatural, o que será bastante para o elevar ao altar do Euro Grupo, pelo que insiste em apear o santo holandês, ao arrepio da cúria de Bruxelas.
Justiça lhe seja feita, porém. Ninguém no mundo acreditava que o défice baixasse e que a economia crescesse, um cêntimo que fosse. Nem Bruxelas, nem o FMI, nem a OCDE, nem as empresas de notação financeira, e muito menos a veneranda senhora Teodora Cardoso, presidente do Conselho Superior de Finanças Públicas, que admitiu, todavia, um cenário de milagre, face ao rosário de sacrifícios e penitências que o governo de Passos Coelho impôs aos portugueses, para resgate dos pecados do governo de Sócrates e de outros que tais.
Mário Centeno, porém, depois do suave milagre do défice e dos rebuçados com que o Governo adoça a boca dos eleitores, já promete a multiplicação dos pães e a transformação da água em vinho, e até a cura da lepra dos impostos e da dívida pública, mesmo sem lançar a rede do investimento.
Quando tal se verificar os portugueses terão razões para acreditar que Mário Centeno é um novo profeta, cujo destino é ir pregar para Pádua, à semelhança dos taumaturgos Barroso e Guterres, sem que daí adviesse algum benefício para Portugal, como era suposto.
Até mais ver, porém, a ténue recuperação da economia portuguesa, sem acréscimo significativo de novas fábricas e empresas, continua a ser ilusória, produto de artes mágicas, com a história a repetir-se mais uma vez: a seguir a uma doença profunda, mal o doente abre os olhos alguém grita vitória, porque importante é ganhar eleições. A cura total e definitiva, essa, vai continuar adiada.
Acima de tudo porque um país que deve a cães e gatos jamais terá credibilidade. Sobretudo quando o país é pobre e pequeno como Portugal.
Mário Centeno poderá ser um guru inesperado ou um mágico de circunstância. Para ser beatificado, porém, terá que fazer prova de mais impactantes milagres.

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

Henrique Pedro