Umas das maiores prorrogativas da Democracia, talvez a maior, provavelmente a Única por ser a base de todas as outras reside no direito reconhecido a todos de poderem escolher uma entre várias opções para cada um dos problemas que o tempo e as circunstâncias nos vão colocando ao logo da vida. Mesmo que quando, quer a nossa, quer a da maioria, pender sempre ou quase sempre para o mesmo lugar é bom, reconfortante e seguro saber que essa escolha resulta da convicção de bondade da mesma pois havia, há e haverá a possibilidade de preferir, promover ou adotar um caminho diferente, uma solução alternativa, um propósito diverso. É por isso com grande estranheza, com surpresa e até com alguma mágoa que se constata que, cada vez mais, muitas das resoluções dos decisores locais, nacionais e até europeus, nos aparecem como factos consumados, definitivos, sem possibilidade de argumentação ou oposição porque, dizem, “Não Havia Alternativa”. São demasiadas e cada vez mais frequentes as circunstâncias que desembocam em ruelas estreitas, apertadas, difíceis, tantas vezes, mas inevitáveis por constituirem a única saída possível. Foi, inclusivé, cunhado um acrónimo com base na enunciação em língua inglesa desta mirífica e polivalente solução: “TINA – There Is No Alternative”. Por oposição a este existe o oposto “TIA – There Is Alternative” que no nosso português configura um nome de muito maior abundância e utilização. Mesmo sendo certo que a crescente opção pelo filho único lhe diminui a vantagem, mesmo assim há e haverá sempre mais tias do que Tinas. Preferindo embora a denominação lusófona em que a opção única nos oferece como sigla um vocábulo fonético muito nosso, muito nordestino Nha pela utilização das iniciais de “Não há alternativa” mas também usado popularmente como abreviatura de “minha” (Nha mãe, nha tia – como recentemente e com muito agrado ouvi em plena Lisboa), não me conformo com a as soluções únicas trazidas e apresentadas como inevitáveis por alguns iluminados de que se supunha haver apenas (má) memória.
É que, por estranha coincidência, quando uma opção tem por justificação a inexistência de alternativa, é sempre má, prejudicial para os cidadãos e acarreta custos que, mais tarde ou mais cedo, se irão refletir no nosso bolso. Curiosamente também se verifica que quem justifica estas deliberações, quase sempre, pouco tempo antes, desde que noutras circunstâncias e com outras responsabilidades, jurava e garantia que o leque de escolhas é, para todos e qualquer dos casos, largo, vasto e com seguras vantagens sobre as decisões alheias. Assustadoramente, floresce esta teoria e maneira de ser e pensar no centro político onde até há bem pouco se encontravam as soluções governativas maioritárias. É infelizmente nos extremos, quer da esquerda, quer da direita, que aparecem e fazem caminho ideias e propostas com diferenciação clara e evidente.
Ainda há pouco tempo se falava na “esquerda caviar” para fazer a ponte entre os extremos políticos. Chegou a vez das tias para igualmente encontrar as pontas extremadas da política. É da extrema esquerda e da extrema direita que chegam as TIA’s com consistência e estabilidade perante a deriva e desnorte do tradicional centrão de TINA’s
NHA TIA
José Mário Leite