O Paulo, o Álvaro e o Mário

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É de tal forma frequente e banal que os partidos políticos mudem de opinião de acordo com a sua situação em relação ao poder que já não deviam ter qualquer crédito as referências, que ainda se atrevem a fazer, ao passado dos seus opositores. E contudo, continuam a fazê-las. E, pior que isso, a comunicação social (o novo Tribunal Popular) dá-lhes palco, cobertura e chega a arremedar-lhe alguma credibilidade que os satisfaz e incentiva. Já, por outro lado, as posições devidamente fundamentadas, genuínas, sem contraposições passadas, parecem estranhas e bizarras e sem qualquer lugar de relevo na imprensa falada e escrita. Conseguem, quando muito, uma nota de rodapé, para cumprir calendário e “serviço público”. Nada mais! Vejamos casos concretos recentes.
Anda aí uma roda-viva por causa de uns supostos SMS. Alegamente Mário Centeno terá dito, num deles que António Domingues estava dispensado de apresentar a sua declaração de património por causa da alteração ao estatuto dos administradores da Caixa. Eu gostava muito de saber quantos dos que hoje rasgam as vestes e batem no peito sabiam, antes da “denúncia” de Marques Mendes, que eftivamente havia uma lei com dezenas de anos que mantinha aquela obrigação. Aposto que muito poucos, para não dizer nenhuns. Se lhe perguntassem, numa roda de amigos se a obrigação se mantinha (quase) todos teriam dito que não. Provavelmente Mário Centeno também. Talvez o tivesse escrevinhado, se lho sugerissem, numa toalha de papel de tasco onde tivesse ido petiscar ou na areia da praia, em tarde de veraneio. Ou num SMS particular, se questionado dessa forma. E depois? Não o terá escrito em nenhum documento oficial, que são esses que obrigam o governante. Terá, garantem, omitido tal “crime”. Em benefíco próprio? Em benefício de familiares, amigos ou correlegionários? Não. Pelo contrário toda a atuação ministerial, ao que se sabe e sem qualquer desmentido mesmo pelos seus maiores detratores, tem sido orientado para o benefício da Caixa, do país e dos portugueses. Porquê então tanto alarido?

Por outro lado a comunicação social que brande os SMS como archotes em noite escura e fria, relegou para pé-de-página as declarações de Álvaro Santos Pereira que se referiu de forma muito clara e acertiva à célebre demissão irrevogável, garantindo que Paulo Portas, com o intuito e o objetivo de obter poder pessoal (o que conseguiu) fez “intriga e chantagem com um país numa situação dramática”. Todos sabemos o custo que teve para o país e qual o ganho político assim obtido. Provavelmente não escondeu nenhuma comunicação incómoda nem garantiu nada que não pudesse fazer. Mas isso não impediu o prejuízo nacional que a sua atitude egoísta e irresponsável causou. E porque é que a imprensa não relevou, não releva nem irá, seguramente, relevar tão reprovável comportamento?

É bom que, em ano de eleições, os presidentes candidatos tenham em boa conta que a legitimidade das opções de gestão que as eleições lhes conferiram têm de ser moderadas e limitadas pela ética que lhes deverá impedir que usem os meios municipais para promoção puramente pessoal!
O importante e fundamental para todos os governates, seja a que nível for, é a defesa intransigente do interesse superior daqueles que os elegeram e a quem representam. O devido reconhecimento e recompensa individual, quando existir, terá de ser consequência. Nunca o contrário.

José Mário Leite