Há palavras que de tanto usadas nas situações mais diversas acabam por ganhar significados contraditórios.
É o caso da palavra reformar que, hoje em dia, significa pura e simplesmente mandar para o lixo. Reformam-se os cidadãos que já não prestam porque deixam de ter utilidade e só incomodam. Abatem-se à carga das empresas como máquinas obsoletas ou as cadeiras e os cortinados lá de casa, promovidos à condição de trastes.
Aos funcionários, ainda assim, atribuem-lhe uma pensão, descontos nos transportes públicos e nas consultas médicas, não importando, nem mesmo à polícia, que muitos passem o resto dos dias nos bancos dos jardins.
Os governantes do sistema dão-se mesmo ao desplante, por puro calculismo, de decretar a idade de reforma, o prazo de validade, melhor dizendo, a partir da qual o infeliz, por mais saudável e válido que seja, é constrangido a arrumar as botas.
Governantes que não olham para o próprio umbigo, porém, e se não dão conta de que são eles e o sistema político em que vegetam que estão a precisar de ser reformados. Mesmo os que se dizem de esquerda e revolucionários porque, por mais estranho que pareça, se mostram mais arreigadamente conservadores, nas actuais circunstâncias, que os seus congéneres de direita.
Toda a gente vê, menos os políticos, claro está, que o Regime, o Estado, e não só a chamada Segurança Social, estão a precisar de reformas profundas e urgentes, embora não necessariamente de uma revolução.
De reformas que se traduzam em qualidade, mais verdade, maior eficácia e melhor democracia. Reformas que não se fazem sem vontade e espírito reformador, o que não há nossa classe política.
Os maiores avanços sociais da Humanidade foram operados por reformadores e revolucionários. Os revolucionários, para lá de transformações positivas provocaram, quase sempre, injustiças e desgraças desnecessárias. Os reformadores sempre foram mais pacíficos e construtivos. É destes que Portugal precisa.
O actual Regime político, Estado incluído, tem gerado crises e misérias ininterruptas mas os nossos políticos, continuam a vender a alma ao diabo. Esvaem-se em deleites ideológicos, perdem-se e pelam-se por votos, e o eleitorado foge deles como o diabo da cruz.
Incompreensivelmente continuam a defender que Portugal está no bom caminho e que é crime falar em reformas. Pensam assim porque a vida lhes tem corrido bem. Com mérito ou sem ele, militar num qualquer partido político é meio caminho para benesses e mordomias.
Não se compreende, todavia, que agora gritem “aí vem lobo”, escondidos atrás da moita do compadrio e dos privilégios, brincando com a ameaça populista que grassa por todo o mundo livre, porque são eles os lobos que andam a dizimar o rebanho.
São eles que estão a dar a ler às criancinhas o livrinho Mein Kampf do menino Adolf Hitler.
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.