Ter, 08/11/2016 - 10:06
A menos de um ano das eleições autárquicas, os municípios do distrito de Bragança continuam, na generalidade, a viver numa estranhamente tranquila paz do senhor, sem que se vejam surgir candidaturas capazes de animar a participação política dos cidadãos.
Até poderia ser um bom sinal, se não vivêssemos os dias derradeiros de todas as oportunidades perdidas para inverter um caminho, que ameaça tornar-se sem retorno.
Com honrosas excepções, as quatro décadas de poder local democrático não demonstraram condições de ruptura com a gestão atenta e obrigada pela torneirinha no fontenário, do tempo obtuso de Oliveira Salazar, promotor reconhecido de um ruralismo sem horizonte que não fosse a contemplação de uma eternidade redentora, depois da passagem torturante por este mundo.
As referidas excepções poderiam ter alentado outros voos, porque demonstraram que a subserviência e a omissão relapsa são enxotáveis do nosso quotidiano.
Durante décadas ninguém há-de esquecer o rasgo inovador de José Gama, à frente dos destinos de Mirandela, como não haverá quem negue a importância decisiva de José Luís Pinheiro na criação de condições para o que se chama, agora, a capitalidade de Bragança. Júlio Meirinhos, na década de 80, conseguiu que Miranda do Douro recuperasse peso no contexto regional, ao mesmo tempo que um homem bom foi fazendo o que podia em Macedo de Cavaleiros, sem grande orientação estratégica, mas de forma voluntariosa, o inefável António Ferreira, o Pescadinha.
Outros houve que deixaram memória de dedicação e denodo, com resultados nem sempre notáveis, mas respeitáveis: Sobrinho Alves, que lançou para o mundo o fumeiro de Vinhais, a que os seus sucessores, José Carlos Taveira e Américo Pereira, deram mais solidez; Aires Ferreira, que se esforçou até ao desespero por garantir um estatuto no contexto regional ao concelho de Torre de Moncorvo; Luís Vaz, que nunca desistiu de Macedo de Cavaleiros e ainda Artur Pimentel, que conseguiu gerir um município, suportado na força dos afectos.
Naturalmente, a memória futura do nordeste não deixará de ter na devida conta o legado de 16 anos de Jorge Nunes, em Bragança, gerador de despeitos de alguns medíocres, refastelados nas doçuras decadentes da demissão.
Mas, nem estes lideraram os seus municípios suportados em projectos partilhados, suficientemente claros para todos os seus concidadãos. Foram simplesmente exemplos de voluntarismo e coragem, dignos de respeito.
Nestes tempos já seria esperável que as forças políticas na região se dedicassem a construir projectos de intervenção autárquica, suportados na identificação dos problemas vitais, capazes de conceber estratégias de intervenção, técnica e politicamente sólidas e de mobilizar equipas de cidadãos verdadeiramente empenhados na construção de alternativas ao marasmo que nos foi tolhendo gerações inteiras.
Pelos vistos, o panorama é um definitivo deserto, agora de ideias, também de equipas coesas e preparadas, deixando, mais uma vez, que o acaso nos traga a sorte de novas revelações de cidadãos autênticos, sobre os quais descarregaremos o nosso conformismo e exercitaremos a maledicência sem responsabilidade.
Ou, ainda pior, assistiremos, quais palonços, a movimentações de pseudo cidadania, em que o oportunismo, o golpe de vista e o pé ligeiro nos trarão mandatários que não se colocarão sequer as questões inquietantes do devir desta terra, que merecia outro destino.
Por Teófilo Vaz