Vladimir Maiakowski, jovem poeta da Revolução Russa, um dia lançou um grito reivindicativo assim: “Eu quero o meu futuro, já!” ( repare-se na analogia entre esta reivindicação e o imperativo revolucionário, lançado quase 50 anos depois, dos soixane-huitard de Cohn Bendit : “ Sê realista! Pede o impossível!”) Apesar disso também fez, um pouco paradoxalmente, um elogio à velhice, nestes termos pedagógicos: “se à noite chorares por Sol, não verás as estrelas”. Maiakowski quis transmitir não só confiança numa coisa da qual todos desconfiamos mas também dizer que a velhice não é mais que outro capítulo da vida e não o seu “dark side”, e que, em cada tempo, devemos olhar para o que de bom nos é mostrado e nunca ignorar os seus encantos.
Não tendo eu uma visão tão idílica da terceira idade penso, além disso, que Maiakowski foi atraiçoado pelas suas próprias palavras. Na figuração que ele próprio elaborou, a velhice é a noite. “Um naufrágio!” teria vociferado em tempos “de Gaule” num lamento impotente.
É por isso que já não torno para Ítaca. Já estou velho para Ulisses. Além disso, um ano à deriva, porque o corpo e a alma transferiram entre si os seus males- Galeno dixit, tiraram sentido a qualquer retorno. Não que não haja lá Telémacos mas Penélope há muito que acabou a camisola e até já a entregou. Decidi, então, seguir o conselho do poeta Bandeira e “ Vou-me embora para a Pasárgada / que lá sou amigo do Rei / durmo com a mulher que quero / na cama que escolherei”. Vou-me embora para a Pasárgada.
Por Manuel Vaz Pires