Um Papa civil

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São muito raras as personalidades do sistema político português que, como António Guterres, se impõem pela sua humanidade, honradez, espírito de missão e abertura ao diálogo. Qualidades que lhe que advêm, em última análise, da sua marcante matriz cristã.
A sua escolha para secretário-geral da Organização das Nações Unidas, a maior e mais representativa associação humana, é, portanto, um acontecimento excepcional na democracia portuguesa, também porque mereceu o empenhamento nacional unânime.
Acima de tudo, António Guterres, como o próprio reconhece e realça, é um campeão do diálogo. Muito embora o espírito dialogante que sempre o animou não tenha produzido os melhores resultados na governação de Portugal que protagonizou porque na política portuguesa impera a bestialidade e o facciosismo.
Contrariamente, os grandes problemas que a Humanidade enfrenta só poderão ser resolvidos pela cooperação e pelo diálogo e, tudo leva a crer, António Guterres comportar-se-á como um verdadeiro Papa civil a quem se augura, desde já, os maiores sucessos.
António Guterres passa assim a ser o português mais universal dos tempos modernos. Antes dele apenas José Mourinho e Cristiano Ronaldo no futebol e Durão Barroso na política haviam ousado alcançar reconhecimento planetário. António Guterres, porém, vai desempenhar funções da maior amplitude, responsabilidade e influência na vida das nações.
Mas uma questão se levanta no espírito dos portugueses: que ganha Portugal com escolha de António Guterres para tão alto cargo?
Em termos prácticos nada, certamente. A economia portuguesa vai continuar a marcar passo, a dívida pública a aumentar, os indicadores sociais a degradarem-se e a democracia envergonhada enquanto não houver uma consequente reforma do regime político despesista e corrupto que nos asfixia.
O acréscimo de prestígio carreado por Durão Barroso e pelos futebolistas Ronaldo e Mourinho também não teve impactos significativos na vida nacional, por mais que Portugal tenha passado a ser falado pelo mundo fora.
Porém, com António Guterres secretário-geral da ONU, ainda que Portugal não seja obviamente favorecido nas instâncias internacionais, passará a ser olhado com mais respeito. Sobretudo pelos burocratas de Bruxelas e pela sua tutelar chanceler Merkel, que tiveram o topete de designar, in extremis, uma funcionária sua para tentar derrotar a candidatura portuguesa, talvez por lhes doer não terem assento permanente no Conselho de Segurança.
Enfim. Mais uma vez se prova que a História de Portugal não terminou com a queda do Império.
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

Henrique Pedro