Os portugueses acabam de viver, com o entusiasmo do costume, dois notáveis acontecimentos relacionados com a Europa de que fazem parte.
Primeiro foi o Campeonato Europeu de Futebol, que correu de feição à seleção nacional, graças ao inexcedível empenho dos intervenientes lusitanos, pese embora o seu medíocre desempenho.
Valeu, sobretudo, a convicção de dois grandes homens de fé: Fernando Santos, selecionador nacional, e Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, que acreditaram na vitória desde o primeiro dia até á última hora.
Seguiu-se-lhe o Campeonato Europeu das Sanções em que mais uma vez foi determinante a fé laboriosa do Presidente da República que, vestindo a camisola nacional, se portou como um excelente ponta de lança, e também o desempenho, embora titubeante, do defesa central António Costa, que passou a prova a chutar bolas para fora, visivelmente constrangido porque não depositava confiança nos seus parceiros da ala esquerda.
Campeonato em que Passos Coelho, Maria Luís Albuquerque e Assunção Cristas passaram o tempo em exercícios de aquecimento na esperança de entrarem em campo.
De salientar ainda que a seleção nacional contou com os préstimos de três excelente pontas de lança estrangeiros a saber: Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, Pierre Moscovici, Comissário para a Economia e Finanças e Federica Mogherini, Alta Representante da UE para Política Externa e Segurança.
Certo é que Portugal acabou por vencer este Campeonato Europeu das Sanções à base de empates e sem vitórias redundantes, à semelhança do Campeonato Europeu de Futebol, porque se esquivou, para já, das controversas sanções, ficando a decisão final adiada para a discussão de orçamento de 2017.
Neste caso a vitória portuguesa acabou por se traduzir numa derrota humilhante, não da seleção francesa mas da seleção alemã capitaneada pela senhora Merkel, na qual alinham os temíveis craques Wolfgang Schäuble, ministro das finanças e Jeroen Dijsselbloem, presidente do Eurogrupo, um nome de pronúncia e digestão particularmente difíceis.
No Campeonato Europeu das Sanções joga-se uma espécie de futebol rocambolesco, que é praticado em campos elípticos, alcatifados mas enlameados, e em que a bola não é redonda mas vai mudando de forma conforme os pontapés que leva e o som do apito de quem arbitra.
Tanto assim é que, até à última hora, a assistência não sabe se o resultado se traduzirá em sanções, punições, coimas, multas ou coações. Muito menos quem e como traçou o limite da área em que são assinaladas as grandes penalidades por incumprimento do défice. Limite que para já é de 3 %, mas que não resultou de nenhum estudo científico, ao que se diz, e antes se deve a um mero palpite de mesa de café, a que o senhor Wolfgang Schäuble deu o indispensável “agrément” político.
Pior um tanto. Os adeptos portugueses continuam sem perceber porque é Portugal obrigado a jogar o Campeonato Europeu das Sanções, depois de tanta austeridade. Porque é que a economia portuguesa continua sem crescer, a despesa pública não pára de aumentar e o défice não tem maneira de abrandar.
Mais ainda. Porque é que o governo de um país endividado em centenas de milhares de milhões, agora mais se enxovalha por uns míseros milhões e não reclama dos donos da Europa tratamento igual ao dos grandes prevaricadores, ainda que acatando as sanções que lhe coubessem em sorte?
Seria uma forma elegante e digna de mandar o senhor Schäuble à senhora Merkel, que é como quem diz, “àquela parte”, “a baixo de Braga”.
Para lhe dizer que os portugueses sabem o que querem, são capazes de ganhar campeonatos de futebol e de pôr a economia a funcionar, sem favores e sem sanções.
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.