Como todos os portugueses que se interessam por futebol, fiquei contente com a passagem da Seleção Nacional aos oitavos de final do Campeonato Europeu em curso.
Embora profundamente desiludido pela forma como o fez, «in extremis», sem grandeza, nem glória. E ficarei mais contente ainda se a nossa Seleção, depois que levou de vencida a Croácia, também eliminar a Polónia, e seguir em frente, com o maior brilho e dignidade.
Nada disto significa, contudo, que esteja de acordo, e muito menos aplauda, a importância desmedida que o futebol tomou na vida nacional, a ponto de açambarcar a atenção dos meios de comunicação e de levar muitos governantes e figuras públicas a comportamentos excessivos e ridículos, subalternizando muitos outros sectores, esses sim, de maior peso na construção do País livre, justo e progressivo que todos ansiamos.
Recordo que um destacado político português, primeiro-ministro ou presidente da república, não importa, aquando do Campeonato Europeu de 2004, realizado em Portugal, e que foi ganho pela Grécia, nossa infeliz parceira na desgraça comunitária, expressou a ideia de que o futebol é um desígnio nacional.
Não penso assim. Embora o futebol envolva multidões e mobilize milhões, entendo que não possui requisitos de “desígnio nacional”, contrariamente a outras grandes causas e movimentos que nos projectaram na História Universal.
O futebol não passa de um desporto, de uma actividade lúdica, de uma ocupação de fim-de-semana. Que não deve asfixiar os demais desportos, muito menos relegar para segundo plano a cultura, a arte, a ciência, o voluntariado e solidariedade social. Estes sim, podem e devem mobilizar e motivar o grosso da nossa juventude. É neste sentido que os nossos governantes devem governar o país, e não geri-lo ao sabor dos ventos.
Diz-se que Salazar terá dito que beber um copo de vinho era dar pão a milhares de portugueses. Não podemos agora permitir que o actual regime nos embriague e adormeça com futebol e telenovelas.
Cada coisa no momento e na dose certa. Portugal tem que ser um país justo, progressivo e equilibrado. Se tempos houve em que o interesse dos portugueses se repartia pelo Futebol, por Fátima e pelo Fado, não pode, agora que o mundo e a criatividade se abriram e alargaram, confinar-se ao futebol e às telenovelas.
Uma política nacional, livre e democrática, deve sim apontar e promover outros grandes desígnios que não o futebol.
É nos domínios da cultura, da Língua Portuguesa, da investigação, científica e das tecnologias de ponta que os portugueses podem dar novos mundos ao mundo.
Não no mundo cão do futebol.
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.
Por Henrique Pedro