Jornalismo sensacionalista e exploração da violência das imagens criticados no “Tua Escrita”

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Qua, 08/06/2016 - 15:10


O investigador Ernesto Rodrigues, que também já foi jornalista, moderou debate sobre a violência e as formas como é explorada pelos media.

O jornalismo sensacionalista e a exploração da violência das imagens podem não ser as melhores formas de veicular a informação. Uma ideia vincada na segunda edição do “Tua Escrita”, que decorreu no passado sábado, em Mirandela, inserido no cartaz da Feira do Livro.

O escritor e investigador transmontano Ernesto Rodrigues critica o jornalismo sensacionalista, que explora sobretudo temas relacionados com o crime e a violência, de forma exagerada, com o objectivo de aumentar a audiência dos telespectadores ou dos leitores. O professor na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, que também já exerceu a profissão de jornalista e publicou vários estudos nesta área considera que o jornalismo televisivo que arrasta demasiado os temas é uma espécie de telenovela que em nada contribui para a informação. “Também como antigo jornalista não gosto da actuação de certos canais televisivos que passam horas e horas repetindo a mesma prosa. Estou a pensar, por exemplo, na CMTV, que passa horas e horas a falar sobre um mesmo acontecimento, que se deu em poucos minutos. Pode ser repetido em novos noticiários, mas não faz sentido estar ali com mil e um comentadores a rebater sempre o mesmo assunto. Isso é uma espécie de telenovela mas é de preferir as telenovelas de ficção pura e não insistir em realidades dramáticas, cuja informação deve ser suficiente mas, em demasia nada acrescenta”. 

O debate com o tema “Violência: pão nosso de cada dia?” juntou autores transmontanos com publicações que, de alguma forma abordam as questões da violência. Uma das questões debatidas foi se os meios de comunicação devem dar tanta importância a certas de formas de violência, nomeadamente a violência das imagens.

Ernesto Rodrigues, autor do livro “Uma Bondade Perfeita” foi o moderador do debate que reflectiu também a sua obra e para o qual convidou a romancista Teresa Martins Marques e os transmontanos Jorge Golias, José Manuel Pavão, José Mário Leite e Telmo Verdelho.

José Mário Leite, natural de Junqueira, no concelho de Torre de Moncorvo incluiu no debate temas que aborda no seu mais recente romance: “A morte de Germano Trancoso”. Já o escritor mirandelense Jorge Golias, que publicou o livro "Capitães da Guiné"refere que a sua obra é, essencialmente, sobre a paz e que, se este tipo de discussões tivesse acontecido noutros tempos, talvez hoje não houvesse a manifestação de outros tipos de violência. “A forma mais violenta que existe na sociedade é a guerra. Se esta discussão tivesse sido feita há 30 ou 40 anos, nós quase não estávamos aqui a falar de violência doméstica, de agressão sexual, de corrupção, de uma série de formas de violência que hoje estão a descoberto na sociedade. Há 40 anos, a comunicação social não dava este tipo de informação, o que não quer dizer que estas formas de violência não existissem”, observou o autor. O “Tua Escrita” foi uma das iniciativas que integrou a Feira do livro de Mirandela que terminou no passado fim-de-semana.

 

Jornalista: 
Sara Geraldes