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PREC ampanha

Ter, 20/09/2005 - 15:51


“Queremos que a nossa Revolução progrida para um socialismo pluripartidário, em simbiose profunda entre as vias revolucionária e eleitoral” afiançava em 1975 o Presidente Costa Gomes, na sessão de abertura da Assembleia Constituinte.

Começava, então, aquele que viria a ficar imortalizado na recente História de Portugal como o Verão Quente de 1975, um dos momentos mais embaraçosos do complexo PREC – Processo Revolucionário em Curso. O país, anonado, desassossegava-se; as ruas abafavam-se de gente pouco dada ao pacifismo; os manifestos políticos desdobravam-se, revelando os fenómenos de ruptura e conflito que alastravam nas estruturas militares, sociais e políticas da nação.
Trinta anos mais tarde, aqui, pelas bandas do Nordeste, neste Verão de chamuscos, o curso da revolução já há muito foi esquecido. Resta o do Fervença que continua lento e pachorrento, sem quaisquer perspectivas de agitação. Em contraste com o corrupio afobado da adrenalínica pré-campanha para as eleições autárquicas de Outubro. Que trazem, no pacote das inevitáveis surpresas, uma nova medida de “combate político”: a impugnação.
Segundo o Jornal Nordeste, no seu último número, “o Partido Socialista pede a impugnação de todas as candidaturas que o PSD apresentou aos órgãos autárquicos de Vinhais”, alegando que “não preencheu os requisitos legais, por não constarem os elementos de identificação do mandatário”. Afoito, o PSD reagiu – segundo a rádio local – pedindo a impugnação da candidatura de Armando Vara à Assembleia Municipal, por não o considerar elegível, face às suas novas e estonteantes funções na Caixa Geral de Depósitos.
Em Freixo de Espada à Cinta mudam as personagens, mantêm-se os partidos e a alegação da lista social-democrata, mas surge um novo e curioso dado: terá o PSD, partido do actual executivo, pedido a impugnação do candidato socialista com receio de uma tradição concelhia que consiste no facto do Presidente da Câmara Municipal nunca ganhar o terceiro mandato? É que o actual edil já está no final do segundo e, nestas coisas de votos, está visto que o senhor em causa deve ser supersticioso...
Mas se a palavra de ordem é impugnar, os candidatos do PS e do PSD à Câmara de Vinhais são quem mais ordena. E surpreende. Se não, veja-se: a estratégia buldozer da candidatura socialista, que avançou com quase dois anos de antecedência e se tem mostrado omnipresente e tonitruante, abafando a vila e o concelho de Vinhais com cartazes de tamanho XL periodicamente renováveis (não esqueçamos que, no seu penúltimo número, a revista Visão dava conta de que o PS investe mais na campanha de Vinhais do que na da capital do distrito), faria pressupor alguma autoconfiança que levasse a olhar o principal adversário com condescendência. Porém, ou por conhecer a fábula da Lebre e da Tartaruga, ou porque os “efeitos especiais” são só para aturdir, a candidatura socialista fez o pedido de impugnação, no Tribunal da Comarca de Vinhais, que o indeferiu, de todas as listas do PSD. Se esta ocorrência descobre a fragilidade da candidatura socialista (quem não teme o inimigo não o neutraliza antes da luta), o facto de ter sido interposto recurso para o Tribunal Constitucional reforça essa fraqueza, pela persistência numa estratégia pouco abonatória para quem a toma. Porque mostra, justamente, falta de estratégia e indiferença por aquilo que é realmente importante. Eleições ganhas na Secretaria não são uma vitória de que alguém – com um projecto a sério – se possa orgulhar. E mandar petardos, para atordoar, com sugestões de “ilegalidades” não é uma prova de inteligência. O que mostra que as candidaturas do PS e do PSD à Câmara de Vinhais têm algo em comum.
Atarantada com o pedido de impugnação dos socialistas, a candidatura social-democrata perdeu uma oportunidade de mostrar sensatez e algum discernimento. Mas não. Preferiu fazer o jogo pueril do nós-também-achamos-que-vocês-têm-qualquer-coisa-ilegal-por-isso-não-pensem-que-são-melhores-que-nós. Em vez de apresentar propostas e discutir ideias e projectos.
Percebe-se que, com esta engalfinhada situação, os eleitores de Vinhais só não ficam esclarecidos, quanto ao teor destas candidaturas, se andarem distraídos. Porque elas mostram que o que está, de facto, impugnado é o bom senso.
Paula Romão