Ter, 03/05/2005 - 17:39
Em vez de concentrar os ciganos num bairro social, a CMB pretende realojar as famílias em diversas aldeias do concelho, estando prevista a aquisição de 25 fogos para futuro restauro.
As medidas da edilidade, contudo, têm esbarrado em atitudes de rejeição por parte das populações, que não vêem com bons olhos a presença de indivíduos de etnia cigana.
O assunto foi debatido no passado sábado, em Bragança, durante as II Jornadas da Pastoral dos Ciganos do Nordeste Transmontano.
O presidente da CMB, Jorge Nunes, apresentou o Projecto de Realojamento de População Residente em Barracas (REPCIG) e reconheceu que o processo tem registado pouca evolução. “Há imóveis que já estão a ser negociados, mas, quando as populações se apercebem, começam logo as pressões sobre as Juntas de Freguesia e, mesmo, sobre os proprietários das casas”, recorda o edil.
O projecto abrange 90 ciganos, entre os quais 47 crianças que, na maioria dos casos, não frequentam a escola.
Ritmo de caracol
O trabalho está a ser desenvolvido por uma equipa constituída pela autarquia, Segurança Social, Pastoral dos Ciganos da Diocese de Bragança-Miranda e Instituto de Emprego e Formação Profissional. O prazo para concluir o realojamento é de três anos, mas, se o REPCIG não avançar com mais rapidez, os objectivos não serão cumpridos.
Jorge Nunes mostra-se optimista, mas durante as jornadas deixou escapar as suas expectativas. “Quem me dera poder dizer, no próximo ano, que já realojamos cinco famílias, ou até uma”, desabafou o autarca.
Para dar conta dos problemas com que se debate o projecto de realojamento, o edil relatou um episódio que remonta a 2002. Na altura, uma família de etnia cigana tentou construir uma casa na aldeia de Castro de Avelãs, mas o empenho da CMB, da Junta de Freguesia e, até, do pároco, não conseguiu vencer a repulsa da população. “Não houve compreensão das pessoas”, lamenta Jorge Nunes.
No concelho de Bragança, contudo, há casos de sucesso no que toca à integração das comunidades ciganas no meio rural. A aldeia da Sarzeda, anexa de Rebordãos, é um desses exemplos, mas o presidente da Junta de Freguesia, Adriano Rodrigues, acabou por não comparecer nas jornadas para falar de “As Famílias Ciganas em Espaço Rural – Experiências de Sucesso”.
Sucesso em Rebordãos
Coube, por isso, ao pároco da freguesia e responsável da Pastoral dos Ciganos, padre Bento, dar conta do bom relacionamento entre a população da Sarzeda e a comunidade cigana. “A integração é boa, pois as famílias de etnia cigana participam nas festas da comunidade, envolvem-se nas festas, vão à missa e são uma fonte de mão-de-obra no seio duma população envelhecida”, explicou o sacerdote.
Casos como estes repetem-se nas localidades de Izeda, Sortes e Carragosa, entre outras, e poderão multiplicar-se se o REPCIG chegar a bom porto. “O processo é longo, mas se não se resolver o problema do realojamento, dificilmente conseguiremos resolver a questão da educação dos elementos mais novos dessas famílias”, salienta Jorge Nunes.