Ter, 05/04/2005 - 18:03
Perante a possibilidade de se venderem só livros, Cláudia Rodrigues, funcionária da Livraria e Papelaria “Cultura”, responde que “isso era mais complicado”.
Na Livraria e Papelaria “Gomes” registam-se poucas vendas: “então em livros é que quase nada; o que se vende são revistas de fofocas e jornais”, diz o proprietário António Gomes.
As dificuldades prendem-se com a falta de clientes e com o facto de não haver dinheiro, de um modo geral, por causa da crise. O que se constata facilmente é que os estabelecimentos auferem mais rendimentos dos serviços de papelaria (fotocópias, venda de material escolar e de artigos de escritório) do que pela venda de livros.
Margarida Teixeira, da Livraria e Papelaria “Gomes”, afirma que a situação das livrarias em Bragança é “má”, em relação àquilo que foi no passado. Fernanda Silva, da Livraria e Papelaria “Popular”, mostra-se mais céptica: “a situação das livrarias, em Bragança, é péssima, embora já tenha sido melhor”.
Concorrência dos hipers
Bruno Barbosa, da Livraria e Papelaria “Artfil”, diz mesmo que “não vale a pena investir, não neste momento” e atribui a responsabilidade da situação actual à “concorrência desleal dos hipermercados e da Internet”, que retiram vários clientes.
Os hipermercados são os principais concorrentes das livrarias bragançanas, porque, como encomendam maiores quantidades de livros, praticam preços mais baixos, apesar de nas livrarias se poder fazer um desconto no preço que está marcado no livro.
De acordo com Fernanda Silva, “o hipermercado é o maior concorrente, porque oferece melhores preços e porque as pessoas aproveitam para comprar livros ao mesmo tempo que fazem outras compras”. Segundo a mesma, as pessoas que compram nas livrarias fazem-no por causa das “facturas para o IRS”.
A aquisição de livros em Bragança é fraca, mantendo-se constante ao longo do ano, mas tendencialmente regista um ligeiro aumento no Natal. Algumas livrarias admitem que é a altura do ano em que vendem mais livros.
Como a venda de livros não é um negócio rentável, falta também algum envolvimento dos proprietários dos estabelecimentos em oferecer produtos e serviços diversificados, inovadores e de qualidade.
Aqui, há a registar que nenhuma das livrarias dispõe de um site ou de um e-mail disponível ao público, à excepção da Livraria e Papelaria “Rosa d’Ouro”. A justificação para a inexistência de um site está em expressões vagas: “ainda não surgiu a ideia” (Fernanda Silva).
Fracos hábitos de leitura
Nas restantes livrarias, o e-mail é utilizado a nível comercial. Além de facilitar um contacto mais rápido com os fornecedores para encomendas e pagamentos, é uma exigência das editoras, que divulgam as suas novidades via Internet.
Quanto à percepção que têm dos hábitos de leitura dos brigantinos, os livreiros são unânimes. Há quem seja mais cáustico ao declarar que “não há hábito de leitura em Bragança” e ao concretizar as razões: “talvez se possa dever ao próprio meio, com hábitos muito rurais (…) em que é só trabalhar e ir para casa, e depois não é para ler”, palavras de Bruno Barbosa.
É consensual entre os livreiros que o preço é a razão principal das pessoas não comprarem livros, apesar desse factor ser insuficiente para fundamentar a falta de hábitos de leitura. Há sempre a possibilidade de recorrer a bibliotecas e à troca de livros com familiares e amigos. Mesmo havendo livros a um preço acessível, Cláudia Rodrigues admite que há uma relação qualidade-preço que legitima o preço mais elevado de alguns livros, principalmente, os que são escritos por autores consagrados.
O que motiva a compra de livros é, sobretudo, o prazer da leitura e o desejo de aumentar o conhecimento e/ou o grau de cultura. As pessoas elegem os livros como prendas. Portanto, na época do Natal e em aniversários, a compra de livros para oferecer aumenta. E, ainda que realidade das livrarias brigantinas seja negativa, os livreiros esperam melhores dias, de preferência com mais hábitos de leitura.