Sex, 18/03/2005 - 12:29
“Exorcismos: O poder da Estola nas mãos do Padre Humberto Gama” é o título de um livro do jornalista do Correio da Manhã, Luís Costa Ribeiro, que já vai na segunda edição.
A obra, editada pela Sete Caminhos, retrata diversas sessões de exorcismo protagonizadas pelo padre Humberto Gama, seleccionadas a partir de um leque de 81 casos a que Luís Costa Ribeiro assistiu, fotografou e documentou.
O tema é polémico, mas Luís Costa Ribeiro não pretende que o seu livro seja encarado como uma investigação científica. “O meu trabalho é o resultado de factos testemunhados presencialmente, em perto de uma centena de casos com famílias que procuraram ajuda junto do exorcista Humberto Gama”, explica o jornalista.
“A forte convicção com que me embrenhei neste processo”, acrescenta o autor, “é baseada num simples facto: eu vi”.
Tudo começou em Setembro de 2003, quando Luís Ribeiro rumou à Recta da Levandeira, no concelho de Murça, para entrevistar Humberto Gama na sua residência. O resultado foi uma entrevista com duas horas em que, “sem tabus, se falou de tudo”.
Diabos à porta
Mais tarde, o jornalista propôs um trabalho sobre exorcismos a Dulce Garcia, editora do Domingo Magazine, que viria a ser editado com duas páginas na edição do 28 de Setembro de 2003 do CM, com o título “Humberto Gama – O Padre Americano”.
“A reacção dos leitores foi de tal forma intensa que cheguei a ter de desligar os meus telemóveis para poder trabalhar, tão grande era o ritmo dos pedidos de informações”, recorda o repórter.
Na semana seguinte à publicação daquele trabalho, Humberto Gama, começou a acordar com a casa rodeada de viaturas com famílias, vindas de todo o País, que se sujeitavam a dormir no local para marcar vez para serem atendidas. Tal facto levou o sacerdote a dizer ao jornalista, com alguma ironia: “Arranjaste-me um rico serviço. Antes vivia no Céu, hoje acordo todos os dias com os Diabos à porta”.
Para tentar perceber a razão daquele “fenómeno” Luís Ribeiro passou um fim-de-semana em casa do padre Gama e, com autorização das famílias, assistiu a meia dúzia de casos que o transportaram para uma realidade que desconhecia em absoluto.
Terrível e assutador
“Do cepticismo passei para uma fase de espanto que provocou muitas perguntas para as quais não encontrava respostas, situação que para as quais, também, não encontrava explicações plausíveis. Aquilo a que eu tive a oportunidade de assistir era algo de tão grandioso, terrível e assustador, mas ao mesmo tempo gratificante, que durante algum tempo me deixou perturbado”, explica.
Na obra Luís Ribeiro não deixa de tecer alguns comentários à hierarquia da Igreja, pois diz ter esbarrado em obstáculos de vária ordem quando procurava mais informação acerca da temática do exorcismo. “Pretendo que este trabalho seja um grito de alerta para os bispos, padres e entidades religiosas, que têm responsabilidades nesta matéria e deixam os seus fiéis ao abandono sem qualquer apoio pastoral, projectando-os para os braços de charlatães, bruxos, cartomantes e habilidosos, que se limitam a sugar as carteiras dos necessitados”, alerta o jornalista.
Para o repórter do CM, “a Igreja tem de arrepiar caminho e seguir os exemplos que Jesus praticou quando andou pelo mundo”.
J.C.
Exorcismos: nota do autor
“Quando a saúde nos corre mal, os amores e desamores não são aquilo que idealizamos, quando o trabalho não evolui como queríamos, temos a tentação de pensar que nos fizeram uma maldição, que nos rogaram uma praga, ou que o Demónio não nos larga, são pensamentos que nos vêm à memória, mas para os quais nunca encontramos certezas ou verdades.
Ao longo das sessões a que tive o privilégio de assistir, pude vislumbrar um pouco do que se convenciona chamar de oculto, do poder das trevas, dos malefícios, dores e sofrimentos daqueles que, sem saberem porquê, e quando, caíram nas garras do maligno. São momentos aterradores que, por muito que me esforce, nunca conseguirei transcrever com total clareza. Porque muitos dos que emergem das trevas, nas trevas se diluem.
Os que sofrem no fundo das suas almas por pecados que não cometeram, porque a vida lhes foi madrasta, que se encontram na estrada sem saberem o caminho e sem verem a luz, serão aqueles que primeiro e melhor entenderão aquilo que aqui escrevi.
Que estas palavras possam suavizar-vos o sofrimento”.
Luís Costa Ribeiro