Artur Santos defende a baliza do clube mais português da Alemanha

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Qua, 25/11/2020 - 21:34


Há três anos a jogar fora de Portugal, Artur Santos quer chegar ao futebol profissional. O guarda-redes, de 20 anos, natural de Bragança representa o FC Kaiserslautern Portugiesen da Alemanha, desde Janeiro deste ano. Este é o clube mais português em território alemão, é uma das três equipas do histórico Kaiserslautern, compete na 9ª Divisão (Kreisliga-Do Sud) e oferece condições invejáveis para a prática de futebol.

 

-Artur integras uma equipa praticamente formada só por jogadores portugueses …

Não totalmente, cerca de 90% do plantel é português.

- Tal como o treinador, o Rui Clemente.

É algarvio e foi ele que me contactou e me apresentou o projecto. Ele e o Márcio Silva, o director técnico, são os grandes responsáveis pela minha idade para o clube.

- Foi por isso mais fácil a tua adaptação?

Claro que o facto da maioria do plantel, o staff e a direcção serem portugueses facilitou a adaptação à equipa. Não tive a mesma dificuldade que tive quando fui para o Athletic Club de Boulogne-Billancourt em França, pois não falava a língua e era a minha primeira experiência no estrangeiro. Adaptei-me bem e rápido à equipa e à cidade, mesmo sendo um país e uma cultura diferentes.

- O FC Kaiserslautern Portugiesen nasce de uma parceria com o mítico Kaiserslautern. É um clube com condições para a prática de futebol, apesar de militar na 9ª divisão?

O clube foi fundado em 1966, pela comunidade portuguesa de Kaiserslautern, o nome é Portuguesa de Desportos. Os portugueses sempre tiveram uma boa imagem junto dos alemães. Há́ alguns anos essa boa imagem acabou por aproximar a Portuguesa do 1. FC Kaiserslautern. Foi então estabelecido um protocolo entre ambos, nascendo assim o 1. FCK Portugiesen e o clube passou a ser a terceira equipa deles. A equipa treina e joga no complexo do Kaiserslautern que tem quatro campos relvados, dois sintéticos, um campo de basquetebol, um campo de futebol de praia, uma coisa enorme e para além das instalações o 1. FC Kaiserslautern também fornece material desportivo. Ou seja, temos condições excelentes.

 

Artur Santos jogou em França dois anos, no Athletic Club de Boulogne-Billancourt, e mudou-se para a Alemanha em Janeiro deste ano.

 

- Os jogadores conciliam o futebol com as suas profissões?

Sim, no plantel todos os jogadores trabalham e jogam e conseguem conciliar. Não é fácil, mas o amor à camisola vence tudo. O clube dá-nos as melhores condições possíveis e não nos deixa faltar nada. Apesar de não pagarem salários garantem as melhores condições futebolísticas.

- Também é assim contigo?

Fiz 20 anos este mês e sempre conciliei o futebol com os estudos, em Portugal terminei o 12°ano. Em França estudei a língua francesa e aqui trabalho em part-time e vou iniciar um curso de alemão. O projecto que me apresentaram é muito aliciante e ambicioso, incluindo a hipótese de dar o salto e ser profissional na Alemanha.

- Mas no estrangeiro, mesmo a jogar em divisões abaixo das profissionais, compensa financeiramente?

Sim, tanto na França como na Alemanha. Falo da realidade que conheço. A quinta divisão alemã̃, por exemplo, não é uma competição profissional, mas tem alguns clubes com este estatuto e já pagam bons vencimentos. Na quarta divisão há́ 96 equipas e todas elas são profissionais. Em França acontece o mesmo, a partir da quinta divisão há́ clubes com bastante poder financeiro e a pagar bem.

- Ainda está parado o campeonato por causa da pandemia?

Sim os campeonatos estão parados desde o início do mês, mas continuo a fazer treino diário individual. O governo achou por bem parar as competições não profissionais e é pena pois estávamos a fazer uma primeira volta fantástica. Nos últimos 19 jogos oficiais a equipa tem 18 vitórias e um empate.

- Como é vivido aí o futebol por parte dos adeptos?

A Alemanha tem uma grande cultura futebolística e em qualquer divisão vai muita gente ao estádio, aqui vive-se muito o futebol. Em relação aos nossos adeptos, temos um grande apoio.

 

Em Portugal, ao serviço do Nacional, Artur Santos conquistou a Taça da Madeira em sub-19 e ajudou os insulares a subir à I Divisão de Juniores.

 

- Ainda és muito jovem. Já́ passaste pelo GD Chaves e Nacional, ambicionas voltar a jogar em Portugal?

É verdade sou muito jovem. Com 15 anos saí da zona de conforto e tenho de dizer que a experiência tem sido enriquecedora e gratificante. Neste momento estou completamente focado aqui e não penso muito nisso. Tenho os meus objectivos, estou em contínua formação e a preparar-me para dar o salto para profissional na Alemanha. Como referi anteriormente, estou num país com muita cultura futebolística e onde há́ projecção, possibilidades e oportunidades. Nunca se sabe o futuro, mas prefiro pensar em um dia de cada vez.

- Quais são os objectivos do clube?

A equipa trabalha para subir de divisão e ganhar a taça. O clube tem como objectivo destacar atletas e chamar a atenção de clubes de dimensão superior. Tentar trazer jogadores das distritais e do Campeonato de Portugal, à procura de um lugar nas ligas alemãs. Para isso o treinador Rui Clemente criou um plano de trabalho rigoroso, o plantel trabalha junto três vezes por semana e, nos outros dias, ele e os adjuntos trabalham com os jogadores que entendem ter possibilidades de dar o salto e que tem ambição para tal, onde eu me incluo.