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Voltando à vaca fria

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Ter, 13/11/2018 - 10:14


Enquanto a festa mediática nos vai entretendo com folhetins escabrosos de viúvas alegres, com historietas de rapazes do Lumiar, armados em meninos queques, que deixam transparecer por todos os poros a boçalidade rufia, ou com tragicomédias políticas, à medida dos cinemas do piolho, vale a pena voltarmos a olhar para a nossa vida real.

Naturalmente, não devemos distrair-nos do que vai pelo mundo, recordando a sábia e velha sentença de que se vê o mundo todo no nosso povo, agora ainda com mais nitidez, por via da partilha instantânea de todas as tragédias, ousadias, virtudes, mas também vergonhas e misérias.

Se todos os dias contribuirmos para a construção de uma vida com dignidade nesta terra, que nos legaram gerações que povoam os horizontes da memória, estaremos a cumprir o que nos cabe, na casa grande que é o mundo.

Não é o que tem sido feito por muitos dos que ficámos, nem especialmente por responsáveis políticos regionais, mais preocupados com as suas carreirinhas, à sombra das cliques dominantes no baile de máscaras da capital, do que com os interesses da região que deveriam defender.

Os que tentaram agir doutra forma foram geralmente isolados, segregados ou manietados por aparelhos partidários servidos por lacaios lustrosos, serviçais, à maneira dos vassalos medievais, ou dos jagunços dos sertões da América do nosso descontentamento.

Por vezes ainda temos notícia de tomadas de posição mais firmes, mesmo que os resultados sejam insignificantes. Artur Nunes, presidente do município de Miranda do Douro e da CIM – Terras de Trás-os-Montes, veio denunciar os resultados nulos das cimeiras ibéricas para o distrito de Bragança. Na realidade, de tais encontros quase nada tem resultado para a região: continuamos à espera da ligação por auto-estrada entre a fronteira e Zamora e de ligações complementares, numa rede eficaz de conexões com os territórios do lado de lá da fronteira.

Se as cimeiras pouco adiantam, esperar-se-ia que, cá dentro, alguém se empenhasse na contenção dos factores de esvaziamento destas terras. Mas, só é possível constatar que ao abandono político se segue o abandono económico, até se chegar ao desprezo puro e simples. Tomemos o exemplo das obras para o centro escolar de Vinhais: três vezes postas a concurso e três vezes sem empresas interessadas, o que deixa claro que mesmo que haja vontade política, já não há remédio e as próximas gerações não ficarão à espera de gerir as ruínas.

As ligações a Vimioso, a Vinhais e a Freixo de Espada à Cinta permanecem degradadas, enquanto se anunciam investimentos faraónicos no metro lisboeta. O ministro das infra-estruturas lamenta a estratégia dos CTT, mas diz que nada pode fazer, no que se constitui como dispensável na gestão da res publica.

Para dar mais cor à irritação a que temos direito, um estudo conclui que o Estado compra a empresas da grande Lisboa mais de oitenta por cento das suas necessidades de funcionamento, o que inviabiliza empresas comerciais no interior e, em breve, levará à asfixia das que ainda sobrevivem. Assim vamos, noite dentro, sem esperança de nos tornarmos filhos da madrugada.

 

Teófilo Vaz