Ter, 28/11/2017 - 10:40
Há uma sabedoria meio racional, meio intuitiva, que aflora nos quotidianos desta vida, expressa em ditos, aforismos e provérbios, com proveito para lidarmos com a economia, a relação social e, claro, a política.
A característica do azeite que, pela sua densidade, vem geralmente ao cimo, não se misturando com outros fluídos, também serve para falar da verdade que, mais tarde ou mais cedo, também se distinguirá da mentira, ou mesmo da mentirola caprichada, como diriam os nossos parentes da América do Sul.
Quando foi criada uma Unidade de Missão para o Desenvolvimento do Interior, com inauditas parangonas, sessões de aplausos arregimentado e criação de um grupaço de trabalho interministerial, ficámos cépticos, porque calejados por décadas de promessas caídas em saco roto, franzimos o sobrolho, esboçámos um sorriso sarcástico e continuámos a nossa vida.
Na verdade, passaram os dias, os meses e efeitos práticos, nem vê-los. A coordenadora da Unidade de Missão, Helena Freitas, académica de reconhecido mérito, afinal não terá encontrado condições para desenvolver trabalho digno. Era quase a última oportunidade, pelos vistos mais uma vez perdida.
É disso que ela nos fala nesta edição, tornando claro que não teve apoio político, que a estrutura que quis pôr a funcionar não chegou a dar os primeiros passos, levando-a a abandonar as funções com mágoa, mas salvando a sua dignidade.
Fica para a nossa história miserável mais este episódio, pouco edificante para as lideranças políticas do país, repetidamente sem estatura, sem rasgo, sem verticalidade, sem coragem, que vão azeiteirando até ao ranço os dias do fim de territórios que foram a raiz e hão-de arrastar na desgraça os que não quiseram, enquanto houve tempo, mudar de rumo, alimentando o monstro, qual novo adamastor, desapiedado, voraz e insaciável que lançará o país na última tormenta.
Mesmo assim, parafraseando Manuel Alegre, “há sempre uma candeia dentro da própria desgraça”. Em Vila Flor foi concluída uma iniciativa que teve o mérito de trazer à praça pública grandes questões sobre a justiça devida ao interior. As conclusões dos debates, realizados durante um ano, pela Rionor, estão acessíveis para quem as quiser ler. Apontam necessidades, expectativas e soluções para a economia regional e para travar o despovoamento, que passam por ligações ferroviárias, mobilidade no Douro, rodovias transfronteiriças, plataformas aeroportuárias e rede de telecomunicações que cubra o território.
Numa semana em que foi anunciada a reactivação do troço da Linha da Beira Baixa, entre a Covilhã e a Guarda, valia a pena avançar com uma proposta que não deixasse esta região arredada da rede ferroviária.
Não se trata de tecer loas choramingas às vias estreitas, esmola breve e mesquinha de há cem anos, que cedo nos retiraram. O que deve exigir-se é uma ligação de bitola larga, electrificada, a partir da linha do Douro, na Régua, passando por Vila Real e seguindo nas proximidades da A4 até Bragança, com ligação à rede espanhola.
Assim se serviria toda a região de Trás-os-Montes, desde que as redes rodoviárias intra-regionais fossem entendidas como um investimento complementar indispensável.
Teófilo Vaz