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Teremos de ser “pacientes”?

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Ter, 09/11/2021 - 09:08


Nesta edição damos voz a um casal de Vale Pradinhos, no concelho de Macedo de Cavaleiros, que quis partilhar a sua indignação pelo facto do actual médico de família se recusar a atendê-lo. 
O médico, segundo os queixosos, não só se recusou a atendê-los como os deixou na sala de espera especados até perceberem a recusa. De referir, um deles é doente oncológico. E recusou-se porquê? Porque o mesmo casal há 20 anos pediu para trocar de médico, direito a que tem qualquer utente. 
O médico achou então que chegou a altura de se “vingar” por ter sido “trocado” há duas décadas. Mas isto terá algum sentido? Será isto aceitável?
Haverá palavras para descrever tal acto? Que me desculpe o senhor doutor, mas isto não se faz! Admito que possa haver utentes até com convivências mais difíceis do que outros, mas e então? O médico de família tem de trabalhar por vocação. São especialistas na consulta, na pessoa e na sua família.
Porque há 20 anos decidiram que não queriam ter esse médico e, agora, devido à reforma do anterior, volta-lhes a ser atribuído o mesmo ( o único que tinha vagas, vá-se lá saber porquê), têm de passar por esta humilhação não é de todo compreensível. O que mais me custa é que este não é um caso isolado, infelizmente. Já ouvi dezenas de casos idênticos a este, mas que as pessoas, por necessitarem e com medo de represálias, não querem expor publicamente. Porque verdade seja dita, mais cedo ou mais tarde todos precisamos do médico de família. Além disso, nota-se o drama das famílias que não têm médico de família. 
Haverá com certeza muitas pessoas que procuram o médico com muita frequência, mas será maldoso dizer que vão lá para irritar o médico. As pessoas procuram porque se sentem inseguras em relação à sua saúde, o wbem mais precioso que têm. Ninguém gosta propriamente de ir “conviver” para os consultórios. 
O perfil profissional do médico de família coloca-o numa posição-chave na prevenção das doenças. Ao não ter um foco exclusivo na doença, o médico de família cria um espaço de intervenção propício à promoção da saúde. É só isto que se pede do médico de família, especialidade que valorizo imenso. Aliás, até queria mesmo ir encontrar-me com a minha médica e por isso marquei uma consulta em Setembro deste ano, mas só consegui a “visita” para Maio de 2022 (meio ano). Espero encontrá-la bem de saúde. Acho que já percebi porque é que a nomenclatura antiga era “pacientes”.
No entanto, continuo a ver o médico de família como a base de uma rede comunitária de centros de apoio e prestação de cuidados de saúde. Quando os médicos de família conhecem e conseguem gerir todos os recursos da comunidade em benefício dos seus doentes, são muito eficazes e fazem a diferença na vida das pessoas. Como em todas as profissões haverá bons e maus profissionais, mas devemos exigir deles sempre o melhor desempenho.
Àqueles médicos que, além de tratarem patologias, ainda são “amigos” da família, tornando-se parte fundamental dela, deixo o meu profundo reconhecimento.
 

 

Cátia Barreira