Ter, 08/01/2019 - 10:05
Chegado Janeiro, geadas à moda antiga, dias de céu límpido na Terra Fria e de nevoeiros gelados nos vales da Terra Quente, que multiplicam postais fascinantes nas redes sociais, quase nos sentimos de volta ao nordeste autêntico, como se ainda houvesse uma força telúrica a irromper, seminal, das festas do solstício, a caminho de novas Primaveras.
No entanto, as nossas vidas são cada vez mais assombradas por uma legião de “mas”, que tornam sempre breves as ilusões. Ainda bem, poderíamos dizer, porque é fundamental que nos mantenhamos com os pés bem assentes na terra firme, para enfrentar com determinação os desafios que se perfilam no tempo que nos resta.
Foi notícia que o número de nascimentos no distrito se terá ficado pelos mínimos nacionais, no ano que findou. Logo a seguir, neste ranking trágico, terá ficado Évora. O suporte estatístico foi o teste do pezinho, o que relaciona os números com o local onde se realizam os partos. Sabe-se que alguns dos futuros naturais do distrito nascem em Vila Real ou no Porto, alegando os pais razões de segurança e tranquilidade. Por isso, talvez os números reais venham a conhecer uma correcção que os torne menos trágicos.
De qualquer modo, a tendência é iniludível e bastará olhar em volta para perceber que, tendo em conta a idade média da população, não é sensato esperar estabilização, muito menos a inversão da curva dos nascimentos. Também não é curial alimentar esperanças de que os jovens de vinte e trinta anos encontrem razões para resistir à tentação de tranquilidade com que o mercado de emprego lhes acena todos os dias nos grandes centros do país ou por esse mundo fora. Assim, qualquer dia poderemos mesmo assistir ao encerramento da única unidade de partos do distrito.
Entretanto, nestes primeiros dias do ano, sucedem-se anúncios de investimentos massivos, nomeadamente na infra-estrutura e material circulante da CP, no metro de Lisboa, no aeroporto do Montijo, antes da reformulação do plano de investimentos nacional, o que poderá trazer-nos notícias ainda mais demolidoras, apesar dos panos quentes com que o governo tem tentado aliviar-nos nos três anos que já se completaram da legislatura, sem que se visse qualquer investimento significativo neste território.
À degradação e desactivação de serviços já estamos habituados. Fecham as creches e os jardins de infância, fecharam as escolas às centenas, estações e postos dos correios estão em debandada, os bancos batem-nos com a porta na cara, os postos da GNR já nem sequer atendem até à hora das trindades, quanto mais noite dentro. Para compor o ramo de misérias, a cobertura das redes de comunicações continua a ser uma verdadeira anedota.
Por este caminho haverá cada vez menos pezinhos a conhecer a dor da picada redentora, as promessas de vida tornar-se-ão memórias distantes e o território um jardim de todas as tristezas, seco para sempre, porque sem pés também não haverá cabeças para lhe imaginar e tentar construir um qualquer futuro.
Bragança pode tornar-se, afinal, numa realidade sem pés nem cabeça, o que nos relega para o âmbito do absurdo.
Teófilo Vaz