A seca também chega à política

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Ter, 05/12/2017 - 10:35


Que os protagonistas da política se revelam, muitas vezes, uma grande seca, sabemos de ciência certa nós, os cidadãos, que dificilmente nos cruzámos nesta triste vida com personalidades luminosas, mobilizadoras do alargamento de horizontes ou da construção de alternativas ao marasmo, à preguiça, ao deixar andar sem perspectivas de futuro.
Sendo assim ao nível nacional, no que respeita à região e ao distrito torna-se ainda mais incomodativo, mesmo irritante, porque não podemos continuar a dar-nos ao luxo da displicência, enquanto a vida continua a passar-nos ao lado, para florescer noutras paragens.
Apesar das mudanças que as eleições de há dois meses determinaram, não se sentem sinais de renovação, de dinamismo, de coragem para combates políticos que precisamos de travar para sobreviver. Vai-se instalando uma sensação de que a abulia condescendente permanece.
Entre queixas de câmaras deixadas na penúria e atitudes que prenunciam mais quatro anos de gestão corriqueira, não se pode esperar que desígnios fundamentais e inadiáveis da região sejam assumidos e partilhados pelas lideranças municipais. Poderá assim acontecer que cheguemos a 2021 numa situação pior do que a que vivemos hoje, quando se esperava que houvesse consciência de que qualquer adiamento ou hesitação na promoção de uma verdadeira unidade na defesa dos interesses regionais pode ser o golpe definitivo, que apagará a trémula centelha de esperança que restava.
Colhem-se louros, faz-se a festa da conquista da maioria dos municípios, mas depois volta-se à gestão da capelinha, das migalhas que o poder central sacode ostensivamente da mesa do orçamento, como quem alimenta, de forma avara, o galinheiro.
Assim tem acontecido numa alternância entorpecedora. Já houve tempos hegemónicos do PSD, mas também do PS, sem que o declínio tenha sido travado pela conjugação estratégica, que poderia enfrentar o poder central e impor soluções que revertessem políticas que nos têm prejudicado ao ritmo do crescente desleixo, mesmo desprezo, que se alardeia pelos corredores dos palácios da capital relativamente ao distrito de Bragança.
Se, nos últimos 40 anos, os eleitos nos municípios tivessem representado as populações, em vez dos directórios partidários, talvez pudéssemos encarar o futuro com outra força para resistir. Naturalmente não esquecemos que também os deputados que temos alcandorado a São Bento têm históricas responsabilidades na situação a que se chegou, porque também não foram capazes de se libertar das tramas que o centralismo teceu.
Expressão eloquente da teia com que nos enredaram é termos começado os tempos democráticos com cinco deputados, hoje elegermos três e estarmos a caminho de os ver reduzidos a uma dupla de pândegos, para dar cor num parlamento, que é cada vez mais expressão do imediatismo, dos caprichos de minorias fanatizadas, enquanto o país real vai secando inexoravelmente.
Podia ser de outra maneira? Claro que podia. Bastava que houvesse consciência das responsabilidades e vontade de honrar séculos de dignidade de gerações que nos legaram esta terra que não temos o direito de renegar.

Teófilo Vaz