Preparemo-nos para ser velhos

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Ter, 23/11/2021 - 09:40


Esta semana foram divulgados os resultados dos Censos Sénior 2021, a GNR identificou 3343 pessoas nesta situação no distrito Bragança, mais 58 do que em 2020. Esta operação prevê identificar os idosos que estão sozinhos ou isolados.
Este assunto é, para mim, sempre um grande foco de atenção. Eu pergunto-me tantas vezes como será quando for velha, quando já não tiver a saúde jovial que agora possuo. Como é que me irão tratar nessa altura? Estarei sozinha? Arrepio-me quando penso nas respostas. Não suporto pensar que há famílias que menosprezam os seus velhos, as pessoas que os criaram, educaram e lhes ensinaram a maior parte das coisas que sabem. 
Às vezes penso que não estamos a educar a nossa sociedade para a velhice, não estamos a preparar condignamente o nosso futuro. Uma coisa é certa, se não morrermos de algum acidente ou com alguma doença fatal seremos velhos.
Eu utilizo a palavra “velhos” porque acho um termo mais carinhoso do que “idosos” que me soa a um sentimento de pena (cada maluco com a sua pancada). 
É importante descortinar alguns estigmas associados a esta faixa etária no Interior, como por exemplo que são infelizes e abandonados. Alguns até podem ser pela família directa, mas há sempre um vizinho ou amigo que o trata como família. 
Vemos muitas vezes na televisão aquelas reportagens que mostram estas operações da Guarda Nacional Republicana (GNR) a visitarem as pessoas nas aldeias, sempre passando a ideia de isolamento e solidão. A maioria destas pessoas não vive abandonada. São felizes na sua casinha, com a sua horta e os seus animais, e sempre com os olhares atentos da vizinhança, mesmo aqueles que, por infelicidade ou outros motivos diversos, não têm os filhos por perto. O que seria deles se os filhos os levassem para o T2 em Lisboa ou no Porto? Ou então para França ou Alemanha? 
Dos vários trabalhos jornalísticos que já fiz, bem como o meu gosto pessoal de estar em contexto rural, concluo que os nossos velhos são felizes. No entanto, nós, família atarefada, temos a obrigação, dever moral, e por tantas outras razões, de olharmos por eles, cuidarmos e proporcionar-lhes a melhor vida possível.  Eles são tão pouco exigentes e compreendem tão bem os nossos afazeres que um almoço ao domingo, uma tarde de conversa e companhia, vários telefonemas e um olhar atento, lhe dão alento. 
Até os lares, não sendo a solução de estrutura mais perfeita que existe no nosso país, podem ser uma boa opção quando são necessários cuidados redobrados e olhares permanentes, desde que não sejam lá depositados e esquecidos. Nestes espaços criam-se também afectos e formam-se novas famílias. Tenho tanta admiração pelos nossos velhos, seres capazes de se adaptar a tanta coisa… Por esta razão gastei todo o meu espaço editorial para dizer: aproveitemos os nossos velhos, depois será tarde… Cuidemos e acarinhemos, todos lá chegaremos.
 

Cátia Barreira