O tempo dos políticos insignificantes

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Ter, 19/02/2019 - 10:04


Fundamental na política é a dignidade, indissociável da inteireza de carácter, da clarividência, da coragem e da humildade, que reconhece, com franqueza e frontalidade, os erros e omissões, mostrando-se capaz de fazer esforços para os corrigir.

Isso são utopias, dirão alguns. Na realidade, a política tem sido mais a arte da finta, da dissimulação, literalmente da ratoeira sem escrúpulos, indisponível para qualquer penitência, por mais que se vão ouvindo artísticos actos de contrição, aconselhados pelas centrais de marketing.

A experiência que levamos de regime democrático, coloca-nos perante inesperados dilemas que, de boa vontade, dispensávamos. Estamos, mais uma vez, num ano de eleições, que se podem traduzir na legitimação de políticas que reiteradamente têm prejudicado os interesses vitais da região.

Se nos dispusermos a pensar com serenidade, verificamos que há investimentos fundamentais para a sobrevivência do território, objecto de promessas de múltiplos governos, mas que não serão concretizados em tempo útil, condição incontornável para nos resgatar da iminente desgraça sem retorno.

Casos flagrantes são os das ligações de Vinhais e Vimioso a Bragança, mas também à autovia das Rias Bajas e ao AVE, a trinta quilómetros da capital do distrito. Poderíamos acrescentar o desleixo na mobilização de investimentos reprodutivos para garantir postos de trabalho e inverter a já crónica curva descendente da população. Não houve, nestes 45 anos, vontade política para ponderar seriamente soluções.

As primeiras eleições deste ano, lá para Maio, servirão para eleger os representantes do país no Parlamento Europeu, funções a que damos pouca importância, embora ali sejam decididas questões fundamentais para a economia da União e para a mobilização de fundos comunitários, distribuição de que temos saído com as mãos a abanar.

Se tivermos em conta que o cabeça de lista do partido do governo é Pedro Marques, que foi ministro das Infra-Estruturas e prometeu, em 2016, a remodelação da estrada que liga Vinhais a Bragança ainda para aquele ano, na presença do então presidente da câmara, Américo Pereira, mas recentemente, com arrogância, veio dizer que não estavam previstas intervenções nessa estrada nem na ligação a Vimioso, ficamos a saber com o que contamos quando forem decididas as torrentes de euros.

Quanto a outros candidatos, em várias listas de que já conhecemos os líderes, vamos encontrar gente que teve responsabilidades governamentais e que assistiu, em silêncio, ao desinvestimento nas escolas, nas unidades hospitalares, nos tribunais, nos serviços e na segurança. Alguns há que até terão vergonha da província, termo que foi atraindo conotações incomodativas desde o século XIX para os novos ricos das grandes urbes.

Talvez nos reste uma forma de marcar a posição das gentes do distrito e círculo eleitoral de Bragança, que passaria por concertar uma votação massiva no distrito, mas com todos os votos depositados nas urnas em branco. Pode ser que perto de cem mil votos, brancos como a neve, pusessem alguns a pensar.

 

Teófilo Vaz