Ter, 16/01/2018 - 10:50
Os transmontanos têm razão quando se sentem objecto de discriminação, de injustiças, mesmo de desrespeito por parte dos poderes que se vão sucedendo à frente dos destinos do país há longas décadas.
Mas haveremos de reconhecer que o que nos acontece também depende de nós, da resignação que nos leva a procurar alívio em soluções aparentemente menos dolorosas, aceitando que não há outro remédio senão acompanhar os tempos e os modos, mesmo que isso signifique o esquecimento desta terra.
A erosão do ânimo tem sido demolidora, desde que deixámos de encontrar alternativas à torrente para o litoral, para as áfricas, para o centro da Europa, deixando que a natureza fosse retomando, para o bem e para o mal, o seu domínio sobre o que foi construído em séculos.
De vez em quando surgem no horizonte sinais de esperança, nomeadamente quando se percebe que determinados produtos, que só aqui podem atingir patamares de qualidade serem apostas para estabilizarmos economicamente e manter níveis demográficos aceitáveis. Temos o exemplo, já secular, do vinho do Douro, que ruma a um futuro gratificante, os frutos secos, que denotam renovada importância em mercados a crescer, mas também os frutos frescos, como a cereja e a maçã, que têm ganho peso na economia regional, mesmo sem estarem garantidas condições de regadio que trariam novas possibilidades de crescimento, de emprego e de iniciativa empresarial.
Mas, também constatamos, como aconteceu esta semana em Macedo de Cavaleiros, que o nosso peso específico em produções nacionais importantes pode estar em queda, o que nos coloca perante um dilema pouco empolgante. Falava-se do azeite da região e da percentagem da produção regional no contexto nacional, que tem vindo a decrescer na última década, por via do aumento vertiginoso da produção no sul do país, nomeadamente no Alentejo, na sequência da utilização dos sistemas de rega do Alqueva.
Podemos perceber que a tendência, por lá, será valorizar a quantidade em detrimento da especificidade e da qualidade. Mas, a produtividade vai traduzir-se em rendimentos, animação de actividades económicas, atractividade.
O azeite da região tem granjeado prestígio nacional e internacional, com prémios que se multiplicam. A questão que se coloca é até que ponto esta estrutura produtiva terá garantias de futuro se o mercado não viabilizar consumos selectivos e criteriosos, comprometendo empreendimentos em curso. Claro que podem ficar sempre exemplos de sucesso individual, que continuaram a produzir preciosidades. No entanto, faltarão sinergias e a resistência tem limites.
Basta pensarmos no que tem acontecido com outros produtos como as carnes DOP, que apesar da qualidade não aumentam a presença nos mercados, estando mesmo em redução os efectivos nos bovinos, ovinos e caprinos.
Sem dúvida que só poderemos afirmar-nos pela especificidade, pela alta qualidade, mas será preciso pensar se isso bastará para mantermos a economia regional em condições de continuar a respirar.
Teófilo Vaz