Manobrismo e ineficácia política

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Ter, 07/02/2017 - 10:01


É tão honorável fazer política nos altos estratos como na comunidade que nos viu nascer, assim como, em ambos os casos, pode ser deplorável. Depende da integridade dos protagonistas ou da falta dela.
A função política tem sido, desde tempos remotos, objecto de tentativas de usurpação por parte de oportunistas sem escrúpulos, que a encaram como instrumento dos seus desígnios inconfessáveis, para mal da história da humanidade.
As lições foram tantas, que já deveríamos ter aprendido a reconhecer-lhes o rasto, evitando que perturbem a construção de sociedades justas, equilibradas e livres.
Ao mesmo tempo, os modelos democráticos foram criando aparelhos, onde proliferam oportunistas atentos, medíocres sem golpe de asa, sempre à espera que as coisas lhes corram de feição. Quando questionados pelos mais atentos sobre a sua ostensiva ineficácia, vangloriam-se de ter desenvolvido competências no jogo político, confundem estratégia com golpadas de chincalhão e dizem acreditar que os seus movimentos sombrios lhes trarão as migalhas de poder, dinheiro e prestígio que desejam.
Por estes caminhos se foi perdendo a qualidade democrática, se instalou o desânimo em camadas crescentes das populações, se confundiu a actividade política com compromissos espúrios, se normalizou a corrupção, conduzindo à ruína iminente alguns países.
Por gente como esta passa o manobrismo sem objectivos, a manipulação encomendada, as tentativas de limitação da informação, a propaganda balofa e o mexerico em rede. Deliciam-se num pueril jogo de escondidas, em vez de, com honestidade e frontalidade, participarem na clarificação das opções que serão tomadas mais cedo ou mais tarde.
Entretanto, foram contribuindo para desnecessários equívocos, com penosas consequências, que os tais esperam não sentir, embalados no clientelismo. Assim se criam condições para que o povo olhe para a política como um coio, ficando disponível para acreditar em autoproclamados moralizadores, que vão destruindo as democracias, suportados no voto livre de quem está farto desta estabilidade pantanosa.
A nobreza da política passa pela coragem da autenticidade e pela verdadeira dedicação à “res publica”, tanto a nível nacional, como local. Quando não se constroem alternativas sólidas aos poderes vigentes, não se pode esperar que o eleitorado se deixe envolver por passes de mágica, realizados de forma trôpega, alimentando segredos de polichinelo, que só contribuem para a generalização do descrédito a descambar facilmente na chacota.
Dos políticos espera-se o rasgo do golo, em vez do entediante “brincar na areia”, até que o povo rosne o merecido apupo. (À consideração dos políticos do distrito, esperando que nem todos se sintam capazes de ir de derrota em derrota até à vitória final da instalação num tachinho à medida.)

Por Teófilo Vaz