Ter, 23/10/2018 - 10:24
A imprensa, como técnica de reprodução e difusão rápida do texto escrito, foi uma conquista da Europa no século XV, potenciando antiga invenção chinesa.
Quando Gutenberg adap-
tou a técnica oriental aos caracteres móveis, a que associou a utilização do papel, outra invenção da velha China, os europeus passaram a dispor de um meio poderoso de disseminação da literatura, da ciência, do pensamento crítico sobre a vida, as sociedades e a política. Rapidamente apareceram mecanismos de controle da produção e circulação do papel impresso, com diligentes poderes políticos e religiosos a encontrar formas de censura ou de repressão pura e dura para autores, impressores e livreiros.
Lembremos, em Portugal, Damião de Goes, Garcia de Horta e o próprio Camões, que lidaram com manobras, pressões e chantagens relativas às suas criações, reflexões e estudos, antes e depois de passarem pelas prensas.
Mas a Europa haveria de tornar-se o espaço de sociedades guiadas pela racionalidade, que criou condições para o florescimento das liberdades, suporte fundamental da dignidade humana.
Os primeiros títulos de jornais apareceram há pouco mais de três séculos. A imprensa de actualidade viria a atingir ponto alto na segunda metade do século XX, com méritos reconhecidos na democratização das sociedades, contribuindo para a transparência da política, trazendo para o espaço público as grandes ou mais pequenas questões dos presentes e dos futuros.
Conviveram algum tempo com a informação que também se foi fazendo na rádio e na televisão, embora se insinuassem riscos para a informação em papel impresso, associados às tentativas de manter públicos, o que levou a confundir a função de informar com a alimentação da suspeição e do boato, com a procura do escandaloso e do sórdido, sobrevalorizando a anormalidade, contribuindo para confundir e enjoar os leitores.
Caminho paralelo têm feito rádios e televisões, agora acossadas pelas redes sociais, espaços de aparente facilitação da comunicação, logo do esclarecimento e da partilha.
Na verdade, o que se percebe é que a informação tem vindo a perder-se, apesar de parecer que nunca houve tanta. Está a desaparecer o jornalismo, actividade de recolha, análise e divulgação serena dos factos, parente da história do presente, que nunca será confundível com o rumor, o esgar preconceituoso, a cuspidela porca, o grito altissonante, o descaro que é o luxo da ignorância.
No turbilhão que já se instalou, a informação regional, nomeadamente os jornais, poderão ter condições para resistir até que assente o pó. Geralmente, os órgãos que apostam na informação superficial, descontextualizada, emocionalmente manipuladora, consideram que a informação sobre problemas regionais e locais não vende e, por isso, relegam-na para segundo plano ou condenam-na simplesmente à omissão.
Só precisamos de dar força a quem se dedica todos os dias a procurar informar com clareza, profundidade e isenção sobre as questões que se colocam nas nossas terras. Doutra forma mergulharemos alegremente na condição miserável da indignidade.
Teófilo Vaz