A informação e o interior

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Ter, 18/10/2016 - 10:35


Aparentemente o país está farto das nossas lamúrias, cansado da nossa pieguice, incomodado com as inconveniências que perturbam a suave leveza dos dias, sem sintomas agudos dos males que nos roem a vida.
Já assim no-lo disseram, sobranceiros, ministros e secretários de estado, economistas fracassados, pensadores de mercearia e, para nosso governo, alguns que nos representaram, mas se inebriaram nos corredores aveludados, perdendo-se para sempre nos labirintos do esquecimento das origens.
O que estranhamos agora é que, para além desses políticos, aspirantes a tigres de papel, os fazedores de informação, a gente dos media, também se rebole na palha fofa, onde se resfolega, no espasmo do imediatismo.
Pensavam, os simplórios como nós, que a informação era um dos instrumentos fundamentais para a construção da democracia, autêntico escopo para desbastar a matéria rude, as escórias inúteis, até atingir a grande obra, iniciada pelos visionários primordiais da polis.
Ah!, se o povo estivesse informado...se ninguém sonegasse os caminhos da verdade, como poderia ser melhor este mundo de Deus...ou nosso, já agora. Mas, afinal, os grandes media, à semelhança dos políticos realmente de fraca figura, mais amigos da pança que da esperança, não se mostram capazes de iluminar a face oculta da vida, rendendo-se alegremente às agendas das diversas propagandas, ao sabor dos ventos que sopram em cada conjuntura.
Assim, o país real, calvário sem promessas de ressurreição, pode tornar-se no último papel amarrotado, lançado no caixote do lixo das memórias incómodas.
É verdadeiramente fantástica a lata dos editores cool, lisboetas ou lisboémios, que aproveitam sistematicamente as deslocações de governantes e outros políticos ao interior para, hélas, darem instruções claras para que sejam tratadas somente questões de pendor nacional ou mesmo internacional, recusando qualquer abordagem sobre as regiões ou os locais onde os políticos foram em passeata.
Para isso não precisavam de os interpelar por cá, já que os terão sempre ali à mão, nos passos perdidos de São Bento, de Belém, da Ajuda, do Palácio Foz, das Necessidades e etc…
Parece estarmos confrontados com uma outra PPP, ainda mais perversa do que as que nos têm financeiramente garrotados, com o objectivo de reduzir ao pó insignificante o trabalho hercúleo que foi, ao longo dos séculos, a humanização desta natureza, agreste mas empolgante, dura mas também generosa.
Como se não bastasse termos que suportar, quotidianamente, a salve-rainha dos acessos atascados a Lisboa, o ridículo dos grafismos multicolores, a dizer à malta das Peleias, de Espinhoso, de Vale de Frades ou de Vila d’Ala que o trânsito está entupido na segunda circular, que a fila vai até Coina, ou a entrada na Buraca apresenta dificuldades, quando por cá passam, em alegre companha, imporem-nos a sua agenda de interesses imediatistas, sem horizonte para além dos milhões que as audiências poderão proporcionar, não é, naturalmente, aceitável.
Não temos que ser somente a ultra periferia, ostensivamente encarada como desprezível, mas que serve como uma luva o desígnio de aproveitar fundos europeus para erguer os muros invisíveis, mas reais, que nos vedam o acesso ao futuro. Na verdade, nua e crua, os políticos e os media deixam claro que, como diz o nosso povo, fazemos tanta falta neste país como os cães na missa.

Por Teófilo Vaz