A história menor do futebol regional

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Ter, 17/04/2018 - 10:09


A condição do nordeste transmontano, marcada pelo despovoamento acelerado, a fragilidade do tecido empresarial e a rarefacção de actividades produtivas também tem reflexos no futebol e na capacidade competitiva das equipas que aqui vão resistindo, adiando o colapso.
Nada que não se pressentisse há décadas, quando a atracção dos litorais e da estranja nos escoou as penúltimas fontes de vida. Se em cada cidade ou vila as crianças são poucas, os jovens serão ainda menos e os adultos em condições de evoluir, com qualidade futebolística, contar-se-ão pelos dedos das mãos.
Em tempos recuados jogava-se em campos pelados, sem bancadas, nem balneários, mas o povo animava-se, mesmo quando bairrismos cegos abriam festivais de pancadaria, entendidos como momentos heróicos para contar aos netos.
Há três ou quatro décadas, alimentaram-se sonhos de chegar à alta roda das competições nacionais, quando alguns acreditaram que o futuro, que é este presente, teria outra solidez económica e populacional. Os campos passaram a estádios, a relva permitiu outra qualidade do jogo, mas os clubes do distrito foram ficando nas divisões inferiores ou para lá caíram paulatinamente, sem sinais de que o processo possa ser revertido.
O último exemplo é a descida do Grupo Desportivo de Bragança para a competição distrital, quase meio século depois de ter ensaiado outros voos. Dir-se-á que daí não vem mal ao mundo, até porque há outros distritos cujas capitais não têm, há muito tempo, clubes a disputar campeonatos de nível nacional e o futebol não é essencial. Ainda por cima, hoje o espectáculo da bola está disponível a toda a hora, com protagonistas que se tornam semi-deuses, reduzindo as equipas locais a grupos de rapazes simpáticos, mas pouco empolgantes. Poucos estarão para se sujeitar ao frio e à chuva num jogo de quarta divisão, quando podem comodamente  apreciar grandes eventos de nível mundial.
Mas o futebol pode ser um factor de atracção, com significado no tecido económico do território, nomeadamente num turismo regular, desde que haja equipas que marquem presença sólida em competições de envergadura. O exemplo do Desportivo de Chaves merece a consideração de todo o interior.
Não é possível replicar Chaves em dezenas de cidades de pequena dimensão, mas se, também no futebol, houvesse sentido estratégico e coesão, poderíamos imaginar a conjugação de esforços autárquicos, empresariais e das comunidades no sentido de concentrar atenções num ou dois clubes da região, que se tornariam verdadeiras marcas, com o objectivo de ascender e permanecer nos níveis mais altos, em vez de alimentar ambições de capelinhas que nunca terão viabilidade no futuro, próximo ou longínquo.
Quanto mais divididos, mais insignificantes e, por isso, condenados à extinção.
Uma coisa é a função social desportiva, onde clubes e associações podem dar contributos para a qualidade de vida das populações e outra, bem diferente, seria a possibilidade de a região dispor de uma marca prestigiada que semanalmente fosse objecto da atenção de milhões.

Teófilo Vaz