Frio ou dinheiro?

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Ter, 08/02/2022 - 09:01


É urgente discriminar positivamente o Interior no que toca às energias. 
Fala-se em coesão territorial como se de uma bandeira se tratasse, e, talvez, seja isso mesmo uma bandeira que abana até se esfiapar. 
Há anos que ouço a expressão “lá morrem os cães com a fome”. Não morrem os cães com a fome, mas podem morrer pessoas com o frio. Esta semana trazemos à manchete uma reportagem com os testemunhos de quem sofre com o preço da eletricidade que galopa desenfreadamente.  
O tecido empresarial, já débil, devidos às circunstâncias do despovoamento, vai decaindo a olhos vistos. Será que podemos comparar, por exemplo, um hotel em Lisboa a um de Trás-os-Montes, quando falamos dos gastos com o aquecimento? Obviamente que não! Certo é que o de Lisboa tem mais clientes e o de Trás-os-Montes tem custos altíssimos para conseguir proporcionar uma temperatura minimamente agradável ao número muito inferior de clientes. Aqui os rios congelam, quanto mais as canalizações? É impossível competir nesse e noutros sectores. Querem aplicar medidas que impulsionem o Interior, comecem por aí! 
Como é possível atrair investimento nestas condições? Os sucessivos governos insistem em investir nas saturadas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. Preferem atrair investimento onde já existe investimento, ao invés de atrair investimento para onde não existe. Um apoio energético já era uma ajuda.
Nunca entendi muito bem as construções das nossas casas, mas dá dó ir por essas aldeias e ver os nossos velhos que nem da cama saem para não apanharem frio. Se quiserem comprovar é só ouvir os programas da Rádio Brigantia “Amigos da Onda” ou “Tio João”, onde as queixas aparecem todos os dias. “Oh nem da cama saio, já não tenho força para carregar a lenha e ao menos na cama ainda estou quentinho/a”. Não só os velhos sofrem, ouço todos os dias famílias a dizer que não podem ligar o aquecimento senão não chega o ordenado. É um retrato dramático.
O frio é como a fome, ninguém gosta! É muito bom ir passar um fim-de-semana à neve e à serra, mas é se pudermos chegar ao abrigo e ter o aquecimento no máximo. Ninguém gosta de estar num quarto onde se deita vapor pela boca, onde se tem de cobrir o corpo e a cabeça com um peso bruto das camadas de cobertores. Uma casa de banho gelada, onde se têm de deixar as torneiras a correr uma imensidão de tempo até chegar a água quente. Quem gosta? Ninguém! 
Será por essa razão que os governantes quando nos contemplam com a sua digníssima visita raramente pernoitam? E, durante o dia, andam aqui “engaranhadinhos” sempre a correr para voltar para os 20 graus de Inverno da capital. De Verão também não se dão muito bem aqui, faz muito calor e, mais uma vez, é preciso poupar nos ares condicionados.
 

Cátia Barreira