A Europa a morrer de medo

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Ter, 27/03/2018 - 09:28


Enquanto responsáveis políticos europeus continuam a acalentar a ilusão de que os extremistas islâmicos já vão cansados de dar tiros, esfaquear indiscriminadamente ou lançar automóveis sobre pacatos cidadãos, o terror vai alastrando de forma insidiosa, em condições de poder bater à porta de qualquer um, mais dia menos dia.
Nos últimos anos quisemos acreditar que os alvos se ficariam pelas grandes capitais, porque apostariam no impacto mediático e na multiplicação de vítimas. Essa convicção conduziu à preparação de respostas de segurança para tais cenários. Mas fomos percebendo que não se está a lidar com simples fanáticos, mais ou menos tresloucados ou ingénuos.
Os últimos dias prefiguram uma nova fase, que ameaça instalar um medo demolidor, porque se vai consolidando a sensação de que não haverá mais dias tranquilos, nem nas grandes cidades, nem no remanso das pequenas povoações.
Apesar das competências das forças policiais dos países mais desenvolvidos, dos sistemas de partilha de informações, fomos sabendo que a coordenação deixa muito a desejar e mesmo quando as polícias sinalizam indivíduos potencialmente perigosos, não parecem estar em condições de evitar que eles actuem, provocando novas tragédias. Depois vem o rosário de lamentos, pesares e vales de lágrimas, sem que se sinta força e determinação para um combate vital.
Ao mesmo tempo alimenta-se a propensão para a autoflagelação, confundindo as raízes do fundamentalismo islâmico com questões de funcionamento da sociedade, admitindo mesmo que se proclame tratar-se de realidades integráveis no fenómeno racista, quando se deveria perceber que os contributos decisivos para que o mundo se distancie do primitivismo tribal e do ódio ao diferente surgiram na Europa, pelo menos nos dois últimos séculos.
Enquanto se permitir que haja, nos subúrbios das grandes cidades europeias, bairros onde o quotidiano é determinado pela sharia e pelas pregações de clérigos fanáticos, que não se coíbem de considerar os europeus como cães infiéis a aniquilar sem contemplações, enquanto se aceitar que os cidadãos e, principalmente, as cidadãs evitem tais espaços para não serem perturbados pela agressividade e pelas provocações quotidianas, enquanto virmos automóveis incendiados aos milhares e nos resignarmos, caminha-se para a submissão miserável.
Se a Europa não encontrar, em breve, soluções sólidas para defender a integridade dos seus cidadãos, mas também o seu contributo para a civilização, o futuro reserva-nos tempos de caos, piores que outros registados na história com letras de sangue.
O cimento que parece restar para unir os europeus é o medo entorpecedor, que nunca foi bom conselheiro. Entretanto vão crescendo novas ameaças ao papel que a Europa deveria desempenhar na procura do desígnio fundamental da humanidade que é propiciar a elevação de todos e de cada um às condições de liberdade, autonomia e dignidade no tempo que lhe couber viver neste mundo.

Teófilo Vaz