Ter, 03/12/2019 - 01:55
A essência da política é a liberdade de pensar, que orienta a acção na res publica, a comunidade, polis ou civitas, como diriam os nosso maiores, gregos e romanos.
Da liberdade de pensar ouvimos dizer que se realiza sempre, sem condicionamentos nem censuras, o que não é definitivamente verdade porque também somos resultado do nosso contexto, apesar de não haver “machado que corte a raiz ao pensamento”.
Na política não basta a aventura de pensar, porque a liberdade objectiva só se concretiza na relação com os outros, reclamando o contributo da igualdade e da fraternidade para que não nos tornemos simples adoradores do nosso ego, porventura luminoso, mas incapaz, só por si, de criar novos mundos ao ritmo do pulsar caprichoso de um qualquer génio do bem, ou do mal, porque também os há.
Apesar destas evidências as sociedades continuam a lidar com auto proclamados profetas, que olham com desprezo para os outros viventes, apontando-lhes, de dedo em riste, a rota da salvação de si próprios, desse inferno que é a condição humana, com todas as angústias, tragédias, esperanças, entusiasmos e desilusões que lhe conhecemos.
Quando vai alta a maré do desespero deixamo-nos arrastar pela emoção e perdemos a capacidade de observação racional da realidade. Foi assim que se abriram portas a ditaduras ferozes. Entretanto, continuamos a dar atenção a visionários que distorcem a realidade em nome das suas convicções, por mais absurdas que sejam quando olhadas com inteligência.
Temos aprendido pouco com a história, apesar das dores que a humanidade foi provando. Geralmente tais personagens messiânicos revelaram-se perigosamente inimigos das liberdades e do respeito pelos outros e pelas suas circunstâncias.
Oriundos dos extremos do espectro político-ideológico, tanto faz, quando lhes foi proporcionada oportunidade tomaram o freio nos dentes sem escrúpulos, convencidos que haviam sido eleitos para a revelação final, numa paranóia incomodativa. A centração em si próprios deixou memórias ridículas, miseráveis e agoniantes de Hitler, Staline, Salazar, Mao Tse Tung e, nos nossos dias, de Fidel Castro, Hugo Chavez e o seu herdeiro Maduro. Espera-se que os sistemas democráticos dos EUA e do Brasil encontrem condições de resistir ao espectáculo reles em que deram palco a duas figuras inenarráveis da ignorância atrevida.
Se a racionalidade continuar a perder terreno neste século XXI, corremos o risco de conhecer os primórdios de uma nova idade das trevas, que chegará para ficar por muito tempo. Há razões para temer a proliferação de fanatismos irrecuperáveis para o reconhecimento de valores comuns, condição para que a convivência seja possível.
O fenómeno, aparentemente marginal, que ocupa os noticiários no país é um bom exemplo: os egos no partido “Livre” estão sobreexcitados e uma proposta aparentemente interessante de participação cívica leva à constatação de que fazer política à esquerda pode não passar de mais uma situação risível da miséria a que estaremos condenados.