Ter, 21/02/2017 - 09:55
Anunciada a enésima reviravolta no funcionamento do sistema educativo, retomando a lenga-lenga da auto-aprendizagem e do império do prazer na escola, resta-nos abanar a cabeça, respirar fundo e esperar que o bom senso ainda encontre tempo e espaço no nosso futuro e, especialmente, no das próximas gerações que hão-de passar pelas escolas, se ainda as houver.
Durante décadas aventureiros sem raiz invadiram o sistema educativo, promovendo o caos, à espera de ficar à tona no caldo do obscurantismo. Inventam novas vanguardas a cada passo, gritam provincianas referências em cascata, hoje o Chile, amanhã a Finlândia, depois a Coreia, num seguidismo de experimentalismos sem conclusões sólidas, ao sabor de pequenos e grandes interesses corporativos e mesquinhos.
O efeito tem sido, apesar das ilusões vendidas nas praças das novas Baratarias, o descalabro generalizado do verdadeiro conhecimento, da sabedoria, confundidos com espertezas rançosas, ninhos dos germes da ousadia, a medrar nos monturos da ignorância.
Nunca houve tanto leitor trôpego ao fim de mais de uma década de frequência da escola, nunca se escreveu de forma tão caótica, mesmo ininteligível, quando se está prestes a franquear a ombreira das portas das universidades. No entanto, têm a supina lata de proclamar estes tempos como os das gerações mais preparadas de sempre.
Sabemos todos que, realmente, não é assim. Sentimos, alguns, que nestas décadas se foi desenvolvendo uma cruel traição, que inviabilizou para sempre o cultivar da sabedoria por milhões de cidadãos deste país, em nome do resultadismo estatístico com efeitos gravosos no funcionamento geral da sociedade, uma fonte interminável de frustrações.
A educação é o esteio insubstituível da dignidade, da autonomia e da liberdade autêntica. Não pode ser confundida com facilitismo, mascarado de incentivo à procura individual sem norte. Dessa forma ficaríamos condenados a recomeçar sempre o percurso, não saindo nunca do sítio da pantanosa mediocridade. Para arriscar o percurso prospectivo é preciso partir de conquistas consolidadas, para que se olhe o horizonte com o ânimo de lhe romper os limites.
O grande ideal era garantir o direito de todos a participar do conhecimento, cada um à medida das suas capacidades, do seu esforço e do seu trabalho. Aí se justificaria a flexibilidade dos professores, libertos das imposições rígidas do curriculum, partilhando a construção da autonomia de cada aluno, que haveria de chegar, ao seu ritmo, ao verdadeiro sucesso.
O que se tem feito é uma forma hipócrita de confusão do sucesso com a mediocridade, instalando um labirinto cada vez mais enredante, onde nem será possível esperar pela revolta de um qualquer Ícaro, porque já ninguém sonhará com asas libertadoras.
Por Teófilo Vaz