Deixem-nos ensinar em paz

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Ter, 27/09/2016 - 09:42


Duas alunas de Bragança, irmãs gémeas, Inês e Rita Andrade Trovisco, atingiram a medalha de bronze nas Olimpíadas Ibero-Americanas de química, realizadas na semana passada, na Colômbia. Estudam agora na Universidade do Porto, depois de terem feito um percurso notável na Escola Secundária Emídio Garcia.
A aluna Mariana Garcia, que frequenta a Escola Secundária Miguel Torga, em Bragança, qualificou-se recentemente para integrar o grupo donde sairão os representantes do país nas próximas Olimpíadas Internacionais de Química, em 2017.
Há seis anos outro aluno da Escola Emídio Garcia, Jorge Pedro Nogueiro, representou o país nas Olimpíadas Internacionais de Química, em Tóquio, com uma menção honrosa e também nas Ibero-Americanas, no México, donde trouxe a medalha de bronze. Salomão Fernandes, da mesma turma, venceu as Olimpíadas Nacionais do Ambiente, disputadas na cidade da Horta, Açores.
Em 2012 Ricardo Rodrigues, da Escola Emídio Garcia, atingiu a medalha de prata nas Olimpíadas Ibero-Americanas de Química, realizadas em Buenos Aires, Argentina.
Dois anos depois David Martins, da Escola Secundária de Mirandela, chegou ao ouro nas Olimpíadas Ibero-Americanas de Matemática, nas Honduras, depois de ter garantido também a medalha de ouro a nível nacional.
Nesse mesmo ano Inês Vaz, da Escola Emídio Garcia, foi a vencedora nacional do prémio “Traduzir”; no mesmo concurso Joana Freitas, de Mirandela, obteve a primeira menção honrosa.
Já em 2016 João Francisco Morais, da Escola de Mirandela, atingiu o bronze nas Olimpíadas Nacionais de Matemática.
Estes são registos da segunda década deste século. Não é uma lista exaustiva e não se foi mais atrás no tempo, onde se poderiam encontrar outros feitos notáveis de alunos do distrito de Bragança.
Trazê-los para o editorial do Nordeste é honrar o trabalho que se faz nas nossas escolas, apesar de todas as atribulações que quase nos levam à desesperança e à vontade de mudar de vida.
Apesar de todos os condicionalismos que nos vão impondo, alunos, professores e as comunidades demostram que não desistiremos enquanto tivermos algum alento, concitando todas as réstias de esperança que sentimos no pulsar de quem resiste à voragem lançada pelos políticos de meia tigela, sem raiz nem flor que se cheire.
Se não bastasse a estatura medíocre, que não lhes permite ver mais longe, comprometendo cada dia do futuro desta terra e destas gentes, ainda se permitem desplantes intoleráveis na gestão da educação, numa vertigem insana que faz da escolas um espaço de funambulismo, como se ensinar fosse obra realizável por trupes de saltimbancos a contragosto.
Mesmo assim, por cá, a dignidade da educação ainda não soçobrou, porque as referências permanecem e o trabalho, redobrado, não faz esmorecer quem não se acomoda a desbaratar os talentos, à maneira da parábola, nunca demais lembrada, para não fenecermos sob o manto apodrecido da vergonha.
Estes são os exemplos maiores. Mas há centenas de alunos do distrito que vão continuando a dignificar estas terras por esse país, embora saibamos que, por vezes, o provincianismo “litorês” deixa aflorar o preconceito papalvo, permitindo-se estranhar que sucessos destes aconteçam em Bragança, como se a malta das capitais percebesse mais de química do que de cuecas tingidas pelos humores fisiológicos.
Uma mágoa fica, apesar de tudo. Estes jovens não vão encontrar forma de dedicar o seu saber e trabalho à sua terra.
Seja como for, deixem-nos, ao menos, trabalhar, ensinar e aprender em paz, para não sermos pasto do arrependimento de ser portugueses.

Por Teófilo Vaz