Da necessária transparência na informação

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Seg, 15/06/2020 - 23:24


Já lá vai meio ano de inquietação, angústia, raiva e resignação com a novíssima praga, que ameaça virar do avesso as vidas nossas de cada dia, sem que se vislumbre quando poderemos respirar fundo, entre a multidão, sem medo de encher o peito de pestilência.
São tempos de intranquilidade que nos gasta corpo e alma, revelando fragilidades da condição humana, capazes de nos remeter para a insensatez, a torpeza ou o egoísmo hediondo do salve-se quem puder. E ainda não vimos tudo.
Olhando friamente para a história da humanidade havemos de concluir que não há nada de muito novo debaixo do sol. Durante os três ou quatro milénios que nos antecederam, as comunidades humanas, mesmo as que atingiram níveis de desenvolvimento civilizacional assinaláveis, tiveram que lidar periodicamente com surtos infecciosos, que varreram cidades, reinos, continentes, vidas afinal, não havendo notícia de que os deuses se compadecessem.
Portanto, isto é uma questão entre nós e as pragas. Dependemos da ciência de que formos capazes, das políticas que pusermos em prática para promover a solidariedade, da organização racional que construirmos e da coragem para enfrentar o medo que nos invade todos os dias.
O melhor instrumento para lhe dar combate seria uma informação sólida, apta para revisão tempestiva, realmente esclarecedora, sem se deixar enredar em contradições que desorientam, desanimam e podem conduzir à desconfiança, ao descrédito, à demissão das responsabilidades que cabem a todos e a cada um.
A tradição espúria de entender a política como manobrismo, manipulação ou jogo de sombras nunca deveria ter-se instalado nas sociedades. Mas, em situações como a que estamos a viver, é fundamental que se faça outro caminho para uma nova normalidade, longe da dissimulação, cultivando a verdade, um valor fundamental em permanente construção, mobilizando a inteligência e a humildade, pilares da sabedoria. 
Os últimos meses foram férteis em maus exemplos. Cresce a convicção de que houve informações sonegadas à comunidade mundial, que algumas decisões políticas agravaram os efeitos do problema, que a definição de medidas de contenção ou de retoma não tem sido suficientemente lúcida nem firme.
Exemplo flagrante é o que se passa com a anunciada, logo negada, agora  diferida reabertura das fronteiras com o país vizinho. A Espanha vai reabrir a todos os países da União Europeia já na próxima semana. Mas, com Portugal, só se voltará à livre circulação no início de Julho. Estranhamente o reino do lado apareceu durante dois meses como um dos casos mais trágicos na Europa e no mundo, mas há vários dias que não regista oficialmente óbitos, enquanto por cá ainda vai alastrando a infecção e ainda se morre de Covid 19.
Os efeitos nefastos da reinstalação das fronteiras para a economia raiana são conhecidos. Esperava-se, por isso, outra transparência, para que não restem suspeitas de que alguma coisa não está a ser dita.
Se o adiamento resultar só da vontade de pompa e circunstância, com presidente, rei e responsáveis dos governos, então estamos perante um capricho que tem pouco a ver com os interesses dos cidadãos, especialmente dos que resistem neste nordeste transmontano.

Teófilo Vaz