Seg, 07/12/2020 - 20:54
Na campanha para as eleições autárquicas de 2017 a então candidata e actual presidente do município de Mirandela assumiu publicamente que a recuperação do complexo do Cachão era uma prioridade para o seu mandato. A declaração surgiu numa entrevista ao Jornal Nordeste e à Rádio Brigantia, num momento em que os ares daquela localidade continuavam infectados pela combustão lenta dos armazéns de resíduos, que arderam duas vezes num curto espaço de tempo, agravando a sensação de descidas sucessivas ao inferno da irresponsabilidade e do desprezo por este interior, tão perto dos centros de decisão, mas tão longe da atenção de quem pode mas não manda como seria de esperar.
Júlia Rodrigues não esqueceu o que dissera, nem deixou cair o assunto. Há notícia da continuidade de movimentações para encontrar possibilidades de recuperação das infraestruturas para um projecto importante para a economia regional, na senda do que foi o horizonte do fundador, Camilo de Mendonça: um complexo voltado para a transformação e colocação de produtos agro-pecuários de um território com condições para garantir alta qualidade e espaço crescente de mercado.
Ao que parece, para além da partilha de responsabilidade na gestão do espaço com o município de Vila Flor, ter-se-á encontrado uma plataforma em que a CIM-Terras de Trás-os-Montes se poderá empenhar na recuperação e viabilização do complexo.
Trata-se, no entanto, de uma situação em que se esperaria intervenção decidida do poder central no apoio e na atracção de investidores, tendo em conta que foram muitas décadas de degradação e quebra de circuitos de escoamento, conduzindo à situação lamentável que conhecemos.
Os ministérios da Economia e da Coesão Territorial, este com uma secretaria de Estado instalada em Bragança, não parecem dispostos a dedicar tempo e recursos para dar corpo ao projecto, atenuando tendências de queda demográfica e potenciando a consolidação de actividades agrícolas e pecuárias assim como dos produtos de qualidade que lhes estão associados.
Por enquanto, na semana passada, o que resta do complexo foi visitado pelo novo responsável da CCDR Norte, que disse ser preciso esperar pelo novo quadro comunitário para eventuais investimentos. Entretanto, chegarão uns cobres para estudar soluções possíveis.
Na realidade, passaram quatro décadas sobre a incúria, o oportunismo politiqueiro, por vezes a deliberada malícia, que deixaram o Cachão em cacos. A magna questão é que se perdeu tempo com pseudo soluções que se revelaram inadequadas e podemos estar a chegar ao momento em que será tarde demais.
Aos cidadãos que permanecem no território não bastam miríficos cenários de paraísos virtuais. Precisam de garantias de sustentabilidade para continuarem a dedicar-se a produções de qualidade reconhecida que, a par da intensificação da actividade industrial, do desenvolvimento do ensino superior e de um turismo diferenciado, serão os esteios do futuro.
Os nove municípios da CIM e mesmo, apesar de tudo o que já foi feito para nos desunir, os doze do distrito só ganhariam em encontrar formas de promover um projecto sólido e não hesitar em exigir ao poder central medidas concretas de recuperação do Cachão.
Teófilo Vaz