Ter, 25/10/2016 - 09:52
Os líderes políticos do nordeste transmontano não têm demonstrado poder atingir condição que nos obrigue a reconhecê-los como valorosos combatentes pelos interesses da região. Não se lhes sente coragem, nem ousadia e mesmo a dedicação à causa do nosso futuro deixa muito a desejar.
De vez em quando tem havido algum voluntarismo, ingénuo e ao ritmo de modas passageiras, que colocou alguns autarcas em situações próximas do ridículo, porque acreditaram em autênticas canções do bandido. Num dos casos, em Alfândega da Fé, com consequências gravosas para um município, que se atolou em dívidas, na mira de garantir um investimento verdadeiramente inédito.
Outros casos houve: há mais de duas décadas, a terra dos pauliteiros quase se tornou um pagode chinês e uma fábrica de aparelhómetros de combate imediato a fogos, anunciada para Vimioso, nunca passou de promessa de gataria, já que o objecto dava pelo chamadouro de “catfire”.
Tivemos outros exemplos, em que foi possível encontrar soluções para vigarices, quando um industrial alemão quis fazer dos arredores da cidade de Bragança um vazadouro de lixos tóxicos. Hoje, a estrutura que foi ali edificada, com apoios comunitários, alberga a empresa industrial do ramo automóvel com mais volume de produção em Trás-os-Montes, com reconhecidos efeitos positivos para grande parte do distrito de Bragança.
Daqui se pode concluir que não estamos condenados a ver passar os comboios, ao longe, enquanto a melancolia nos come o que resta de força para continuar. Não se compreende, por isso, a postura resignada, mesmo demissionista de deputados e autarcas, que parecem acomodados a deixar correr o marfim, enquanto o houver, até que mais nada se possa fazer, tornando-nos no centro de um velório, onde os suspiros de alívio se tornarão numa sinfonia macabra.
Apesar do que dizem pias criaturas, a ira nem sempre é pecado. Pelo contrário, pode ser forma salutar de convocar a força da razão, a coragem necessária à imposição da justiça, mesmo se provocando abanões aos mais atreitos à tibieza.
É lamentável ouvir autarcas afirmar que não temos condições para mobilizar recursos importantes de programas da União Europeia, porque nos falta massa crítica ou porque não concebem projectos que possam requerer tais rios de dinheiro. Dizer isso é dar razão aos que nos têm condenado à eutanásia passiva, até que expire o último nordestino.
Ainda são possíveis novas madrugadas, se procurarmos conjugar esforços para a concretização de projectos de impacto na economia regional. O próximo futuro pode acenar-nos sem negaças, nem carantonhas. Os representantes do distrito na capital devem assumir, com firmeza, a reivindicação do que é vital. Por outro lado, nenhum autarca do distrito pode alhear-se de soluções capazes de dinamizar as actividades produtivas.
Haverá, certamente, projectos do interesse de vários, mesmo de todos os municípios do distrito, que estarão em condições de atrair investimentos, nomeadamente actividades industriais, da agro-indústria ou da mineração.
Precisam-se, para isso, autarcas que procurem, queiram e saibam encontrar formas de cooperação, para além do quintalzinho com os silveiros à ilharga, contribuindo para a construção de alternativas de futuro, em vez de desengonçados paliativos, num ambiente impregnado pelos odores do fim.
Por Teófilo Vaz