O São Nicolau na Suíça

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Ter, 13/12/2016 - 10:34


No dia 6 de Dezembro, as crianças na Suíça estão sempre nervosas à noite. Porque estão à espera da visita do S. Nicolau. Muitas crianças com quatro e cinco anos têm um discurso memorizado, que irão apresentar ao S. Nicolau.
De fora, o S. Nicolau suíço (“Samichlaus”) tem vários sósias que são muito semelhantes a ele. Mas, esqueça todos os que já conhece, como o Pai Natal da Coca-Cola, o anglo-saxão Santa Claus ou o Pai Natal alemão, que, do Pólo Norte, e com o seu trenó de renas, traz presentes na noite mais longa do ano. Para dizer desde já que os verdadeiros presentes são recebidos pelas crianças na Suíça no dia 24 ou 25 de Dezembro; presentes esses que estão debaixo da árvore de Natal decorada com velas e bolas brilhantes. O Menino Jesus traz os presentes e as crianças encontram-lhos, na maior parte das vezes e de forma surpreendente, após a visita à igreja debaixo da árvore de Natal iluminada com velas.
O S. Nicolau suíço chega no dia 6 de Dezembro. Vem da floresta profunda, vestindo um grande casaco vermelho com capuz, e tem uma longa barba branca que tapa, principalmente, metade do rosto. Ele vem, muitas vezes, acompanhado por “Schhmutzli”, um homem com barba preta, vestindo um longo casaco castanho com capuz, e um burro.
O S. Nicolau anuncia sua visita com barulho na floresta ou com o toque de um sino. Curiosas e tímidas, as crianças saúdam o velho imponente que, muitas vezes, usa bengala no cinto, mas que traz sempre um livro grosso debaixo do braço. Ele senta-se e as crianças sentam-se com ele. As crianças mais pequenas escondem-se por trás das saias das mães.
Na maioria das vezes, o S. Nicolau conta uma história às crianças visivelmente nervosas. Isso, também, dá tempo às crianças muito pequenas de se esconderem atrás das mães e de se aproximarem do Pai Natal.
Então, quando uma criança surge, individualmente, perante o S. Nicolau e recita o seu pequeno S. Nicolau pessoal (poema), o pequeno de 6 anos, que tem estado a blefar, há poucas horas, à mesa de jantar, puxa a barba do S. Nicolau timidamente e diz o seu pequeno discurso. De seguida, o Pai Natal abre o seu grande livro e diz à criança o que ele fez de bom no último ano, mas também algo que tenha feito de errado ou não tão bom.
Como é que o S. Nicolau pode saber isto tudo estando na floresta? O espanto das crianças é enorme! O S. Nicolau é, frequentemente, um tio ou um vizinho. Os serviços de aluguer de fantasias proporcional um fato adequado, incluindo a barba branca. Mas, também, existem, em muitos locais, empresas de S. Nicolau, que oferecem os seus serviços por um pequeno preço para que a tradição seja mantida. Os rendimentos destas empresas fluem, principalmente, na forma de doações a instituições de caridade.
Uma vez, os nossos filhos, Benjamin e Alexandre, perguntaram: “Pai, quantos anos tem o S. Nicolau?” “É muito, muito velhinho; já existia quando o teu avô e o teu bisavô eram crianças”, disse o meu marido suíço. “E ele não morre?”, continuaram as crianças. “Enquanto houver crianças, haverá sempre o S. Nicolau ”. Agora, como Portuguesa, naturalmente que cresci sem S. Nicolau. E, é claro, que há, também, muitas tradições portuguesas que tento ensinar aos meus filhos. Mas, por oposição a esta festa natalícia que é, cada vez mais, dominada pelo comércio, e os presentes não podem ser grandes, o S. Nicolau é, talvez, a tradição suíça mais bonita. E se os meus filhos, Benjamin e Alexander, continuarem a receber esta tradição, são também valores portugueses que merecem respeito defender.

Maria-Irene Teixeira Hostettler