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Os interesses da guerra

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S eja qual for a guerra e onde quer que exista e marque um ponto negro na História da humanidade, tem por trás dela inte- resses económicos incomensuráveis. Se os cobardes que fomentam a guerra participassem nela e andasse na frente da batalha, não existiriam guerras com toda a certeza. Viveríamos todos em paz. Infelizmente, os cobardes continuam a esconder-se por detrás dos que lhes servem de escudo e que nada mais podem fazer do que servir e morrer. A verdade é que é necessário alimentar toda uma indústria de guerra, em todos os países, na eventualidade da existência de uma guerra, seja de que forma for e de que proporções ela tiver. O que hoje verificamos é que em dezenas de países existe guerra e que a sua eliminação não é fácil. E porquê? Porque enquanto uns trabalham para que se consiga a paz, outros esforçam-se para que ela continue, pois favorece a sua economia de guerra. Quando Hitler subiu ao poder na Alemanha, uma das primeiras coisas que ele fez foi ativar uma economia de guerra mesmo antes da guer- ra ter começado. Ele “adivinhava” que não tardaria e foi ele que lhe deu origem. Já estava preparado. Hoje esse tipo de indústria está sempre em movimento. Penso que só Portugal se desligou quase na totalidade dessa minúscula economia que mantivemos na fábrica do Braço de Prata. Como não tínhamos guerra no ultramar, partiu-se do princípio de que não necessitaríamos de grandes armas. Mas as coisas mudam e até Portugal terá de se armar porque pertence à Nato e tem de participar em ações mi- litares conjuntas e para isso tem necessariamente de ter armas e homens especializa- dos. É um dever e uma obri- gação. Não precisamos de ter guerra, mas ela existe noutros lugares. Mesmo sem querer, somos arrastados para ela. Durante dezenas de anos, a Europa conseguiu afastar o fantasma da guerra e todos os países do continente europeu não equacionaram a possibilidade de voltar a existir outra guerra. Mas o que se espera nem sempre acontece e deparámo-nos com uma nova guerra que veio arrastar quase todos os países para esse conflito. Sem culpas, a Ucrânia vê-se invadida pela Rússia e todos os países europeus e não só, acorrem em defesa da Ucrânia e condenam Putin pela atitude guerreira. Este facto faz-nos lembrar do início da Segunda Guerra Mundial e das declarações de guerra que se seguiram à invasão da Polónia pelos alemães. Já na Primeira Guerra Mundial tinha sido idêntico. Desta vez foi um pouco diferente pois os cuidados foram outros e ninguém queria ou estava preparado para outra guerra na Europa. Era impensável! Mas ela aconteceu. E o que nós estamos a ver é que as armas velhas da Segunda Guerra ainda rodam por falta de outras novas. A Rússia só tem tanques velhos e armas antigas. O que é preciso fazer é acabar com elas antes que fiquem de vez fora de validade. É o que a Rússia está a gastar. Armamento novo, nem ela o tem, mas também não contava com a resistência da Ucrânia. Recorre agora ao armamento alheio como os drones do Irão que sempre saem mais baratos. Ganha quem os fabrica, naturalmente. A guerra que despoletou agora na Faixa de Gaza, depara-se com um cenário diferente. Israel está sempre preparado para a guerra e fabrica o seu próprio armamento. Atacado, desde sempre, pelos países vizinhos, tem de estar sempre em alerta. Isto permitiu-lhe desenvolver sistemas de defesa extraordinários, quer aéreos, quer terrestres ou até mesmo marítimos. Tem uma indústria de guerra fantástica que serve não só o país, como outros países. Um facto curioso, ou talvez não, é que Israel se limita a defender-se de quem o ataca. Não quer perder um palmo do território que lhe foi concedido em 1948 e tudo tem feito para o defender. Encurralado junto ao mar e cercado pelo Egito, pela Jordânia, pela Síria e pelo Líbano que não têm laços de amizade com os judeus, a única saída era saber defender-se e para isso tinha de desenvolver uma in- dústria de guerra bem organizada e forte, caso contrário seria aniquilado. E foi o que fez e bem. Na área, só o Irão, seu inimigo figadal, tem uma indústria de guerra assinalável. Daí o seu apoio ao Hamas e ao Hezbolah. Mas como em todas as guerras, os interesses são vastos e não limitam o fabrico de armamento. A guerra de Gaza é de momento, um compromisso internacional onde as armas contam pouco e a diplomacia tem um valor extraordinário. EUA aconselham a que Israel não invada Gaza, pois ao fazê-lo destrói quase tudo por onde passar, apesar do Hamas ser o único objetivo a aniquilar. Israel suspendeu a invasão. Aguarda pelos resultados de algumas conversações entre líde- res terroristas e ocidentais. A tensão é enorme. O mundo está suspenso destas decisões. O sucedido em Israel pode extrapolar para outras fronteiras e, nesse caso, pode- mos estar à beira de um novo conflito mundial. Se uns esperam que isso não aconteça, outros querem a guerra para ganhar milhões. Este jogo nunca acaba. A guerra nunca terá um fim no seu sentido lato. E porquê? Porque os co- bardes que a promovem, não entram nela.

Luís Ferreira