O voto é a arma do povo

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Esta arma só é bem empregue quando nos convém; Júlia Rodrigues pode, finalmente, salientar a justeza do tiro, António Branco lamentará o não ter sabido defender-se a tempo e horas, certamente, ele nunca leu a A Arte da Guerra e, agora é tarde para o fazer.
Não vou a Mirandela há muito tempo, no último encontro no qual esteve o ora derrotado percebi-lhe a inobservância relativamente aos tiques provenientes do excesso de poder, tais tiques denunciavam alvoroto de ser dele a última opinião, discutia-se o movimento do slow-food, as cidades geradoras de lucros e emprego através das indústrias do ócio, no dia posterior uma possibilidade de introdução de um curso académico cujo mote seriam as artes culinárias segundo o modelo das Universidade John Wallis e Universidade de Florença, a pulsão da «soberania da sua sentença» acentuou-se quando procurei dar sequência ao analisado.
Os anos passaram, pelos jornais recebia indicações de Branco acumular destrunfes inconsequentes numa boa imitação dos posicionamentos de Passos Coelho e seus cortesãos, de soma em soma até à derrota do dia 1 de Outubro, fruto da acutilância e empenho de António Costa.
Num jantar de exaltação do butelo no restaurante da Dona Justa e do Sr. Nobre, fiquei defronte da vencedora. Conversa amena, divertida, até rememorei o apodo de Costa em determinados círculos, para lá do manto diáfano da aparente trivialidade da conversa registei a passagem de forte vontade de a sua mensagem estabelecer os fundamentos necessários a boa colheita de votos na devida altura. Os seus textos publicados neste jornal corroboram a impressão colhida no decurso da aludida refeição. E agora?
Agora, espera-se a concretização das promessas feitas e a consequente autocrítica de Branco, isto se não quiser engrossar a fileira de passistas perdidos no seu labirinto desprovido de húmus político engendrado pelo renunciante Passos Coelho. Noutro jornal, há dois anos anunciei a morte política do clamorosamente derrotado, na altura recebi palavras rancorosas e rançosas dos sins senhores da nomenclatura vinculada à burocracia laranja, ela ainda estava convencida de ir sobreviver à hecatombe provocada pela arma do povo.
Não estou em condições de opinar relativamente aos restantes concelhos exceptuando Bragança, o êxito de Hernâni Dias antecipei-o no artigo intitulado «Prognósticos…», não precisei de ir a Delfos (ilha de mar azul cobalto) consultar a pitonisa, muito menos «ler» nas estrelas na falta da bruxa de Quiraz, o candidato socialista derrotou-se num arrombo de antes de o ser já era, adivinha adivinhada por meninos de cinco anos. A pescada acabava e continua a acabar assada no forno, cozida, frita, grelhada ou guisada, Carlos Guerra salva-se de um qualquer salteado porque a civilização impede a antropofagia alimentar, já no que tange à antropofagia política tumultuosa e barulhenta deve ter começado na jornada nocturna da contagem dos votos a obscurecedora a parafernália do seu currículo.
O Sr. Carlos Guerra pode alegar em sua defesa a entrada no bornal socialista as Câmaras de Macedo de Cavaleiros e Mirandela, somadas à manutenção das restantes cor-de-rosa, sim é verdade, só que nesse colar rosa falta a joia principal – Bragança – concelho a propiciar grávida e grave derrota ao Presidente da Distrital, além de que os vencedores nos outros concelhos ciosamente guardam enfunam os louros dizendo serem sua pertença.
Julgo interpretar adequadamente os resultados se escrever que no Distrito, só existem dois projectos políticos a prenderem a atenção do eleitorado, a arma do povo gasta o grosso das munições nas áreas socialista e social-democrata, as restantes formações partidárias vão vivendo uma ronceira meia-vida alegrada no salão das vaidades nas autárquicas e legislativas.
O nó-Górdio está a estrangular o PSD, se assim continuar estão tem razão um dos responsáveis do seu definhamento quando fala da ruralização do Partido, Miguel Relvas não pode sacudir a água (não chove) do capote, o seu activismo político na prática da teoria do salame afastando todos os militantes não passíveis de se acomodarem ao localismo passista foi tremendo, podendo-se dizer quão benéfico o foi para si próprio (enriqueceu) e protegidos.
O enfunar ideológico neoliberal a ultrapassar a troica em proselitismo levou a um virar de costas dos eleitores laranjas dos núcleos urbanos onde mais se fez sentir a canga da terrível tríade, e, enquanto Passos e Maria Luís surgirem nas televisões pior é, assim o demonstraram os resultados em Lisboa, Porto, Sintra, Oeiras e Setúbal.
O PSD a continuar na senda do desastre irá contribuir para o aumento de influência dos socialistas, irá resvalar na ribanceira da pequenez, irá colocar em perigo os núcleos onde ainda é poder, pois como dizia o autarca do distrito de Viseu, quem não pertencer ao partido do governo não recebe benesses. Ora, o PSD nos últimos tempos tem feito grandes progressos no sentido de ficar relegado desse mesmo poder durante muitos anos. E, a refundação/reformulação não ocorrerá com um qualquer D. Sebastião. Bem podem os saudosistas sonharem, em política o sonho não comanda a vida. Será que os discípulos de Passos não entendem o significado do dito pelo emérito filósofo a respeito de Platão: sou muito amigo de Platão, mas sou mais amigo da verdade.
A renúncia de Passos a recandidatar-se era inevitável, deixa o Partido fragilizado e anémico, só doses cavalares de vitaminas conseguirão recuperá-lo. A acontecer, os socialistas têm de sopesar a gula da maioria absoluta.

Armando Fernandes