O último “Adamastor”

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O desporto transmontano tem feito parte da minha vida e porque não dizê-lo, tem sido desde sempre a minha grande paixão. Primeiro como jovem praticante do futebol na segunda metade da década de 60. Depois, uma curta carreira já no escalão sénior e mais tarde, a grande opção da minha vida desportiva, com a criação de uma estrutura para a prática regular do ténis de mesa que me tem conduzido até hoje.
Como observador atento, lembro as grandes dificuldades das equipas transmontanas para jogar as várias competições nacionais. A falta de quadros competitivos regionais e a distância que nos separava do litoral eram os grandes tormentos que, ainda aumentavam, pelas condições que nos oferecia uma rede viária velha e caduca que, para quem fosse do distrito de Bragança e tivesse de ir jogar ali a Vila Real, tinha de lutar com o gigante das curvas de Murça que, invariavelmente expulsava o pequeno-almoço do estômago das nossas crianças. Mais alguns quilómetros e para quem tinha de jogar numa cidade do litoral, era necessário derrotar primeiro o Marão, com o seu famoso alto de Espinho, sempre à espreita de nos pregar uma partida com a ajuda do gelo, vento, nevoeiro, neve e outras armas que até o trânsito inventava.
Vem isto ao caso porque, vencidas que foram há uns anos as curvas de Murça e quando se anuncia para os próximos dias a inauguração e abertura ao trânsito do túnel do Marão, poderíamos até pensar que os velhos adamastores foram vencidos e que o desporto transmontano tem agora condições perfeitas para se afirmar em níveis de qualidade e pelo menos, com a média do que se faz nas regiões desenvolvidas do nosso país. Não é verdade. Apesar de já ter até ouvido políticos dizer que vamos deixar de ser do interior, tenho a certeza que para o desporto transmontano as alterações não vão ser assim tantas.
O último adamastor que o desporto transmontano precisa de ultrapassar e transformar a nossa região na boa esperança, passa por um forte investimento e o aumento significativo na formação de treinadores e por uma profunda alteração da mentalidade dos dirigentes. Sem este binómio, a abertura do túnel do Marão apenas nos vai permitir ir jogar ao litoral e perder mais depressa.

 

 

 

 

Escrito por Isidro Borges

Professor e Presidente do Clube Ténis de Mesa de Mirandela