O MICROBIOMA COMUM (O Cidadão Cientista)

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Sob orientação da Maria João Leão, promovido pela GIMM e com o apoio da Câmara Municipal de Oeiras, um grupo de investigadores, liderados por Isabel Gordo, Karina Xavier e Luís Teixeira, apelou aos cidadãos da região de Lisboa para participarem num projeto inovador: identificar, estudar e caracterizar o Microbioma Intestinal Humano em Portugal, começando pelo concelho de Oeiras, alargado às zonas circundantes e, mais tarde, se houver apoios, estendê-lo a todo o país. Para tal e, não podendo levar os cidadãos à bancada do laboratório, pede-se-lhes que sejam eles a executar as primeiras tarefas observando, obviamente, o protocolo científico que permita a validação das amostragens que estarão na base do estudo. É mais um passo no caminho da Ciência Mais Cidadã, continuando a abrir-se à comunidade ultrapassando já a etapa da comunicação e indo mais longe do que as visitas aos locais de investigação, levando o laboratório a casa de cada um. A equipa de investigação vai enviar para casa de cada família aderente tantos kits quantos os componentes do agregado e são estes que farão a recolha do material biológico e genético da sua própria microbiota que lhe será entregue pelo Gabinete de Ciência e Inovação do Município de Oeiras, para fazer, por um lado, a análise da composição microbiológica e, por outro, a sequenciação dos respetivos genes. O objetivo é caracterizar a diversidade microbiológica comum em Portugal (que, segundo declarações da cientista Isabel Gordo, será, seguramente, mais rica que a americana por causa da nossa variedade alimentar típica, em contraposição com a dieta mais restrita e menos natural dos norte-americanos) e, a partir daí, identificar os microrganismos que, perante uma doença, a promovem ou previnem. É possível reconhecer, entre os milhões de bactérias que vivem no nosso intestino, aquelas cuja atividade pode ajudar a criar um ambiente propício ao aparecimento de um cancro e, igualmente, aquelas que o dificultam e combatem. Depois “bastará” diferenciar quais os alimentos ou componentes destes que são apreciados por umas e rejeitados por outras e assim condicionar a dieta alimentar portuguesa para prevenir, mesmo antes de tratar, o aparecimento de várias doenças oncológicas. A própria macrobiota pode ser alterada, enriquecendo-a ou diminuindo-a, de acordo com as conveniências de saúde de cada um mas isso, como alertou a investigadora da GIMM, é já um ato médico que poderá ter lugar, num estágio posterior e levado a cabo pelos profissionais de saúde, depois de concluído este estudo e divulgadas as conclusões, devidamente fundamentadas, cientificamente. Por razões logísticas, este projeto tem de ficar, nesta fase, restringido ao município de Oeiras e, excecionalmente, a alguns dos concelhos vizinhos. Porém, a sua extensão a outras regiões do nosso território será de grande importância, para o projeto em si mas, mais do que isso, para as populações estudadas pelos benefícios que daí poderão, num futuro próximo, recolher. Perante uma pergunta sobre a operacionalidade desta expansão, as responsáveis manifestaram grande abertura condicionando apenas ao apoio logístico local que passará, seguramente, pelo empenho municipal em colaboração com a rede de farmácias concelhias. Estou certo que os autarcas ficarão sensibilizados por esta oportunidade e que não deixarão de aproveitar o ensejo de beneficiarem as populações que pretendem servir. Sempre, mas, porque não admiti-lo, com frontalidade?, sobretudo neste período pré-eleitoral que se abre, dentro de pouco tempo. Sobretudo porque, havendo uma capacidade limitada de análise e estudo, quem primeiro se pronti- ficar, ganhará, necessariamente, vantagem sobre os seus concorrentes.

José Mário Leite