O Estado da Nação é crónico e continua crítico

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O pensamento político dos nossos doutos governantes, actuais e outros que tais, é muito simples: basta que dois ou três indicadores macroeconómico melhorem para reclamarem victória, increparem os oposicionistas e gritarem aos sete ventos que o país está melhor, mesmo que a situação continue crítica.

É o seu jeito de iludir o povo. Tudo o mais é irrelevante a menos que ganhe foros de escândalo ou de tragédia. É o fado lusitano da alternância do poder e da esperança com música de desgraça.

O Estado português continua atolado numa profunda crise moral e funcional que extravasa o plano financeiro. Senão, vejamos os exemplos mais expressivos.

A subordinação do poder militar ao poder político democraticamente constituído é uma das pedras de toque da democracia. O mesmo se diz do poder económico. Por isso a Constituição da República estabelece estes princípios inequivocamente.

Na práctica, porém, nada disto se cumpre. O poder económico continua a dominar governos e políticas, lesando escandalosamente o erário público, o desenvolvimento coeso do território nacional e as famílias, como bem o demonstram os muitos casos de alta corrupção que a comunicação social a toda a hora noticia.

Já quanto à subordinação do poder militar ao poder político verifica-se o inverso, com sucessivos governos a menosprezar as Forças Armadas e a desdenhar os militares, com o beneplácito servil dos mais altos chefes castrenses, ou estes não sejam escolhidos a dedo com esse propósito, pelo próprio poder político.

Pior situação do que a presente só a vivida na I República, em que soldados pediam esmola à porta de armas, e que haveria de redundar no maior desastre militar da História depois de Aljubarrota, a batalha de La Lys.

Nem mesmo durante o consulado de Oliveira Salazar, a quem se atribuía a “boutade”: “as forças armadas são um mal necessário”, a instituição militar foi tão desprezada e humilhada. Tenha-se em conta que males reconhecidamente necessários, ontem como hoje, são muito raros.

Hoje em dia, porém, quer para a esquerda oportunista e bem comportada que integra a “geringonça”, quer para a direita do ao Deus-dará, as Forças Armadas não passam de uma inutilidade. Esquerda e direita marcham com o passo certo, porém. São a grande ameaça, interna, que paulatinamente tem vindo a destruir Portugal.

 Esquecem-se que não há Estado democrático forte e respeitado sem Forças Armadas credíveis e prestigiadas, e que é criminoso reduzir o Exército a pequenas unidades mercenárias, destinadas a actuar longe do território nacional, a mando sabe-se lá de quem.

Elucidativo é o triste episódio do assalto aos paióis de Tancos, que o Governo procurou resolver com um “remake” da célebre Brigada do Reumático de triste memória, em que o primeiro-ministro e líder da geringonça, se mostrou à Nação rodeado de quatro patéticos generais, para iludir a desmoralização que grassa nas fileiras e a insegurança que afecta o país, como diariamente se constata com a evidente incapacidade da Prevenção Civil para combater calamidades de grande dimensão.

Enquanto Estado independente e livre, se é que ainda existe, Portugal trava a sua derradeira batalha. Que poderá ser breve ou arrastar-se por algumas décadas mais, mas da qual dificilmente sairá vitorioso.

O que resta da soberania nacional, depois que foi alienada a Bruxelas, sem a justa reciprocidade e equidade, aos credores internacionais, ilicitamente, e aos interesses estrangeiros que dominam as empresas de importância estratégica, continua a desagregar-se na emigração qualificada, no despovoamento do interior, no défice demográfico e no enfraquecimento de instituições fundamentais como sejam a Justiça e as Forças Armadas.

Contrariamente às melhores e mais justas expectativas que se abriram com a adesão à CEE e que apontavam aos mais evoluídos países europeus da sua dimensão, Portugal é hoje um Estado falhado, sendo que a culpa não deve ser assacada à democracia em si mesma mas ao Regime político vigente que não acautela, e antes favorece, a manipulação do poder por bandidos e aventureiros

 Andam agora os governantes deslumbrados com o turismo que inopinadamente lhes bateu à porta, e Lisboa já corre o risco de se converter numa espécie de emirato turístico, sem petróleo, ou talvez pior, num Rio de Janeiro com praias de sonho e favelas de pesadelo. E o resto do país num deserto queimado.

O Estado da Nação é crónico e continua crítico.

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

Henrique Pedro