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A Europa a braços com a democracia

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Parece que o tempo passa demasiado de- pressa para muitas pessoas e para outras muito devagar. Demasiado lento e sem soluções. Assistimos hoje a uma azáfama europeia inimaginável há algum tempo atrás. As crises que já se viveram na Europa foram demasiado graves e quase todas levaram a alterações drásticas e fora do comum ou pelo menos, do que seria normal. As consequências foram terríveis. Quando a Europa vivia o tempo das democracias liberais, pensava-se que tinha chegado a um patamar democrático de que não se sairia mais e que isso agradaria a todos os que deseja- vam estar em paz. Mas não foi bem assim. A crise que se instalou na Europa nos anos trinta e que se arrastou ao mundo inteiro, veio acabar com as democracias liberais para dar lugar às ditaduras e ao fascismo. Isto teve consequências desastrosas, pois como sabemos, levou o mundo a uma Segunda Guerra Mundial. Como os governos das democracias liberais não resolveram a crise económica e social de então, o povo foi atrás de quem lhe prometia tudo e mais alguma coisa, como melhores salários, emprego para todos e governos fortes e seguros. O que se passou foi surgirem líderes como Mussolini na Itália que guiou o povo até à vitória que lhe valeu ser o governante fascista que se iria aliar a outro que, de igual modo, apareceu na Alemanha e que se afirmou rapidamente como o Führer nazi que guiaria a Alemanha à ideia de construir um Império, o Espaço Vital, onde a raça ariana se afirmaria acima de todas as outras raças. A consequência foi envolver os países europeus e mundiais na Segunda Guerra mergulhando o mundo numa tremenda depressão económica e social embrulhada numa confusão jamais imaginada. Durante cinco longos anos o mundo tremeu. As bombas atómicas fizeram a mortandade e destruição que sabemos. Os povos assustaram-se e os governos acabaram por soçobrar dando lugar, novamente, às democracias desta vez com retoques mais democráticos. Hoje a Europa vive uma crise política, económica e social idêntica. As eleições que estão a acontecer em alguns países onde vigorava a democracia, levam a governos de direita e de extrema direita. Os partidos que os governos e alguns partidos democráticos procuravam afastar, são os que agora ganham as eleições. O susto surgiu rapidamente no meio das populações francesas, italianas, em países nórdicos e até na Alemanha, onde o nazismo quer voltar a vingar. Em Portugal aconteceu o mesmo. A extrema direita está a afirmar-se e a associar-se às direitas europeias. Tudo prometem a todos e têm seguidores. Porquê? Porque como os governos atuais não lhes dão o que pretendem, e eles prometem dar tudo e como quem nada tem, nada tem a perder, procuram a mudança. Fiam-se no voto como arma que agora arremessam, mas que amanhã podem deixar de arremessar. Contudo, pode ser demasiado tarde. A crise não se resolve com promessas loucas nem com partidos antidemocráticos. A seriedade da política não pode deixar-se ludibriar nem chantagear. Desconfiamos da seriedade das pessoas que se deixam guiar pelas ideias fascistas, nazis, racistas e xenófobas. A loucura tem limites. A democracia parece uma miragem. Nos anos trinta esses limites foram ultrapassados e todos caímos numa guerra sem sentido, promovida por loucos com sede de poder que nada resolveram. Mataram milhões de pessoas, destruíram cidades, fábricas, populações, enfim, aquilo que outros construíram para o bem de todos. Todos juraram que não voltaria a acontecer. Hoje a crise que se está a instalar na Europa e no Médio Oriente com as guerras que por cá e por lá se vivem, está a alastrar-se de tal modo que os governos democráticos não tardarão a cair e a dar lugar a governos de extrema direita que vão acabar com a união que existe na Europa e que tanto custou a construir. Foi assim que começou a derrocada das democracias liberais no século passado. Esperemos que não aconteça o mesmo no século XXI, mas o exemplo que vem de França, não é nada animador. A democracia perde força. Exceção feita à Inglaterra. Pior que isto, é que o próprio Parlamento Europeu vive momentos históricos e vê a sua composição alterar-se grandemente, de tal forma que leva à união de partidos para se poder manter a democracia mais íntegra e funcional, não se deixando vergar à força que a extrema direita e a direita não democrática está a ocupar. A Presidente Ursula viu a sua candidatura tremer e procurou apoios onde pôde, para segurar a democracia e a ela mesma. Costa conseguiu os apoios necessários para Presidente do Conselho. Portugal marca pontos. Em França a extrema direita ganha cada vez mais força e tem um pé no governo. A União Republicana que se desenha, poderá não chegar. Será que a França quer mesmo a extre- ma direita no poder? Vai ser difícil parar esta onde extremista. Na Itália a direita conservadora ou quase extrema direita se quisermos, já conseguiu o poder. Perante isto, como não há de tremer esta Europa cada vez mais frágil? A culpa, que ninguém quer ter, terá de ser atribuída a alguém. Vamos esperar que se saiba ter tino suficiente para segurar a débil democracia que ainda existe. Caso contrário, que palavras teremos nós para justificar o injustificável? Não há tempo a perder e deixemo-nos de palavras vãs que o tempo leva e não trás.

Luís Ferreira